sexta-feira, fevereiro 16, 2007
O Referendo
Ganhou a indiferença. Em segundo lugar, ficou a morte. Os portugueses, no passado dia 11, disseram não querer saber do direito à vida, disseram sim ao crime que é matar uma criança, um projecto de futuro, uma identidade com um percurso de existência já definido. É assim, por vezes, a democracia: os números podem mais que a razão, que os Valores, que a ética. Agora, Portugal vai legislar o direito à morte e, provavelmente, vai discutir se não será melhor alargar o prazo até às doze semanas, ou mesmo, porque não?, até ao nascimento.
As mesmas pessoas que se indignam quando um bebé é abandonado num caixote do lixo, defendem que a mãe, com o apoio da sociedade, o mate dentro de si. Não se compreende! Como não se compreende que um referendo onde a abstenção ultrapassa os cinquenta por cento, possa ter valor de lei, possa ser considerado definitivo. Este Portugal baralhou tudo! Entendeu ser mais moderno por legalizar a morte, considerou ser conservador se defendesse a vida. Este é o país que ainda não aprendeu a democracia e, por isso, nem se incomoda a ir às urnas quando em causa está o direito à defesa do futuro, à preservação da vida!Mas, como diz o povo, não adianta chorar sobre o leite derramado. A decisão está tomada e resta-nos desejar que o bom-senso prevaleça naquelas que vão ser mães… Agora, vai, provavelmente, vir a lume a discussão sobre a eutanásia, sobre a legalização das drogas, sobre as casas de chuto. E Portugal, porque quer ser moderno, vai dizer que sim. O nosso governo moderno, feliz, vai poder financiar a degradação humana nas casas de chuto, vai aumentar as receitas com a venda das drogas. Em nome, tudo, da modernidade e da liberdade.
Entretanto, as escolas continuam a não ter verbas nem condições para educar de facto, os hospitais continuam a fechar, os doentes continuam a morrer até chegarem ao posto de atendimento mais próximo, as listas de espera para cirurgias continuam a crescer. Enquanto as verbas, as que restam, vão sendo canalizadas para a morte e degradação humanas, os idosos lutam por uma velhice digna, as famílias desesperam com os custos de leites e fraldas, quem trabalha sufoca com o peso dos impostos. Como é bom fazer parte de um Portugal assim: Moderno!
Maria Luisa Moreira