segunda-feira, março 04, 2024

Votar: idealismo e realismo

 A política vive na tensão entre o ideal e o real. Para mim é claro o meu ideal em política. Quero um Estado baseado na Dignidade da Vida Humana, desde o momento da concepção até à morte natural. Quero um Estado que apoie as grávidas a ter os seus filhos e que diante da dor e do sofrimento acompanhe e acolha os doentes. E respeitar a Dignidade Humana também significa respeitar a dignidade dos mais frágeis: os mais pobres, as pessoas com deficiência, os migrantes

Quero um Estado que respeite a família como célula base da sociedade. Que lhe dê liberdade para educar os seus filhos sem pressões ideológicas e que lhe dê meios para se poder sustentar e crescer livremente.

Quero um Estado que fortaleça a sociedade civil, que crie condições para que esta se organize. Uma sociedade solidária, que apoie as famílias na educação dos seus filhos, que apoie os mais necessitados

Quero um Estado solidário, que vá de encontro aqueles que não tem condições de subsistir por si só, que intervenha onde a sociedade não consegue ou não tem meios.

Quero um Estado que respeite a liberdade da Igreja, a liberdade de religião, a liberdade de consciência e a liberdade de educação. E também que respeite o direito de cada um à propriedade privada e a procurar melhorar a sua condição, mas sem sobrepor este direito à Dignidade Humana.

Isto resumidamente, é o Estado ideal para mim. E gostaria de votar num partido ou candidato que pensasse como eu. Mas não existe. Não existe porque todos somos diferentes e todos temos uma forma diferente de olhar para o Estado ideal. Por isso só me restam duas alternativas: ou procuro impor pela força as minhas ideias, eliminando quem discorda de mim, ou estou disposto a procurar uma forma, nas possibilidades disponíveis, que seja a mais próxima daquilo em que acredito.

Este é o grande desafio de votar: sem perder o ideal, olhar com realismo para os candidatos disponíveis.

Claro que podemos sempre ficar reféns da posição purista, de que todos os políticos são maus, de que a política é suja, de que nada muda. E assim mantenho-me puro, enquanto garanto que de facto nada muda.

Contudo, se queremos construir uma sociedade melhor, mais justa, mais humana, então não nos podemos demitir deste difícil exercício de descortinar como posso usar o meu voto de forma a escolher, dentro das possibilidades que existem, o ideal que defendo. Não é uma tarefa fácil, nem isenta de erros, mas é nesta tensão entre o ideal e o real que é possível construir uma sociedade mais humana.

Por isso dia 10 de março vou votar. Vou votar sabendo bem que não há opção ideal, sabendo que todos os partidos têm defeitos, que todos os candidatos são imperfeitos, vou votar sem qualquer ilusão de que atravessamos um momento especialmente difícil para os católicos, que estão cada vez menos representados na política. Mas não deixarei de o fazer, porque a única possibilidade de construir uma sociedade diferente é que cada um não se demita da responsabilidade de escolher, dentro das possibilidades, a alternativa que acredita poder contribuir mais para o bem comum.

José Maria Seabra Duque