terça-feira, março 04, 2008

O Milagre do Ser


O ser e a razão, estão intimamente ligados; a bem dizer, estão indissoluvelmente ligados – por natureza.

Nesta fase de agressiva compressão do personalismo cristão ― como dizia alguém, do “paradoxo do indivíduo ‘encontrado em Jesus Cristo” ― é indispensável mantermo-nos firmemente, constitutivamente, arreigados à verdade.

Recordo a esse título, a formidável intuição cartesiana da síntese “Cogito ergo suum” – à letra, “Penso logo sou” – que derivou na tradução comum de “Penso logo existo”.
Tenho para mim que qualquer desvio a essa conjunção profunda e primacial é um desvio anti – natural, contra – natura, porque atinge a própria natureza das coisas.

Nesta lógica, na propalada crise de valores humanos actual não está em causa a sua profunda realidade, o seu intrínseco mérito e bondade (sendo certo que os verdadeiros valores não desaparecem, nem morrem – não há “maus” valores), mas a imposição voluntária, sistemática, programada de uma intenção objectiva de relativização, aviltamento e rebaixamento do ser a soldo de uma superstrutura social e político – partidária usuária dos diversos aparelhos do poder, também no Estado.

Isto é pura desordem, acto irracional, precisamente porque marcha contra a razão ordenada e livre (que nunca pode ser arbítrio).
Volta a repisar-se: este caminho desregrado conduz por natureza a um beco sem saída, a um precipício: veja-se a liberalização do aborto, pense-se na eutanásia, no ataque organizado à família tradicional, no projecto parental alternativo.
Em tudo um denominador comum: o triunfo de um EU fechado contra o ser e contra a razão no pequeno interesse individual e egoísta.

Para todas essas situações, esses aparelhos do poder carregam com vastas justificações (na verdade, cada vez mais displicentes), só formalmente e aparentemente racionais, antes, perdidamente cegas e erradas.
Curiosamente, sob a aparência da modernidade e do progresso.
Mas é o caminho MORTAL da desordem do ser, do abuso, da prepotência e do crime sobre os demais, principalmente os mais indefesos.
É, numa palavra, o regresso ao passado mais bárbaro e atrasado, à lei do mais forte, do homem brutal e brutalizador, donde só podemos sair por um processo sério de conversão à verdade.
Para começar, é necessário chamar as coisas pelos nomes e ler a realidade tal como é e não como a vendem.


Miguel Alvim