quinta-feira, novembro 08, 2007

Filme da Semana : "The Brave one"









Jodie Jodie Foster não só é a melhor da sua geração, como é a melhor de todas as outras.
Não consigo descrever a maneira como senti o que Erica Bain sentia, a sua loucura de solidão e de revolta, a necessidade de um grito eterno e de um abraço interminável.
O desespero envolve-nos como Jodie Foster tão grandiosamente joga no filme. A sua entrega a uma quase morte psicológica ressuscita em nós a necessidade de vivermos um pouco mais na vida dos que sentimos estar mais perto de nós.
Foster é uma caminhante das ruas anundada em perda e sede de vingança. Uma caminhante que se envolve num processo de metamorfose que não consegue controlar, uma “outra” que destrói o que é capaz de magoar ou o que é simplesmente errado.
The Brave One é um filme que não passa de ser um bom filme, mas um filme que entretém extremamente, só havendo uma ou outra cena que fazem com que o filme se perca um pouco e oscile. Podendo ter sido um pouco mais curto (mesmo não passando da habitual hora e meia de filme), A Estranha Em Mim é um filme que vale tudo pela presença de Jodie Foster e pelo caminho que percorre não só pelas ruas Novas Iorquinas tão naturalmente projectadas sob a lua, como pelo seu arrastar na construção de uma história sensacional e extremamente energética.
Neil Jordan traz-nos assim um filme que é uno pela simplicidade de voltar a trazer de um ambiente à antiga, onde há violência não só entre países mas entre individuais da mesma cidade. E o importante agora é voltar a pegar nisso, como que um grito a fazer-nos relembrar que o mundo é sempre tomado de caos. É o renascer da antiga definição de “revenge”, que nos revolta a sombra do olhar e nos faz entrar num contacto imprescindível de relacionamento com a personagem.
Esquecendo um pouco a loucura do pós-11 de Setembro, Neil Jordan focou uma violência mais simples, que apesar de esquecida faz parte das raízes das “cidades mais seguras do mundo”.
Consegui sentir dor perante as nódoas negras de Erica, e saudades de abraçar o seu noivo que acabou por perder, e tão perfeitamente representado por Naveen Andrews. Até senti perda dentro de mim, um vazio de garganta seca.
No final para melhorar tudo, ainda me apercebi que o título acabou por fazer o maior sentido, ainda que em nada ou pouco seja uma fiel tradução do título original. Para terminal o equilíbrio que se sente entre Erica Bain e o detective Mercer não se deve exclusivamente a Jodie Foster mas à importante presença de Terrence Howard que entrega uma maior sanidade a toda a narração.

A falas de Bain como locutora de uma rádio diferente das outras entraram-me na alma, a magnífica representação de Foster não me sai da cabeça, e o projecto de Neil Jordan acabou por me salvar da crença de que futuros policiais e filmes do género deviam ser evitados. O que mais marca o filme não é a originalidade do argumento, pois acaba por não ser assim tão original, mas o facto de todo o tactear da revolta, vingança, violência e brutalidade serem-nos entregues por uma personagem que ao princípio do filme se afirma a mulher mais feliz do mundo. Jodie Foster, digo, é um gigante íman. Ainda sinto certas coisas do filme a caminharem-me sobre a pele.

Madalena Tavares