quarta-feira, fevereiro 25, 2004

Relance 109

Quando o livro é uma paixão...


“ Aquilo que sou devo-o aos livros que li “
Pedro Abrunhosa

Para quem me conhece sabe que sou um verdadeiro “livro-dependente”, não consigo passar um dia sem ler, sem ter o contacto com aquele objecto que sempre me ensina tantas coisas e que está sempre disponível para mim. Idas a feiras do Livro e alfarrabistas fazem-me sentir como um louco sem olhar ao pequeno salário que tenho, fazendo-me gastar e gastar para poder absorver tantas páginas que me faz ser mais alguém, ser uma pessoa melhor, ser mais autêntico, ser mais exigente.

Por isso fico triste quando converso com os meus amigos e eles não lêem, dizem que cansa, não estão para puxar pela cabeça, enquanto se deliciam com o jornal desportivo com grandes fotos das vedetas futebolísticas e com uma legenda que muitas vezes não passa de um parágrafo.

O fim-de-semana passado fui à praia e contei que em 54 toalhas, apenas duas pessoas estavam a ler livros (embora fosse daqueles livros cor-de-rosa), mas pelo menos tinham um livro, das outras pessoas, que eram imensas, algumas delas entretinham-se com aquelas revistas que falam da vida destes e daqueles, onde aparecem as caras das figuras públicas, muitas delas sem terem feito nada de especial para agora serem consideradas verdadeiras “Stars”.

Num país que adoro, mas onde vão acontecendo tão poucas coisas interessantes, cá se vai vivendo “Burrificado” com aquilo que a caixinha que mudou o mundo nos vai manipulando e dizendo. Vive-se para o politicamente correcto, indo nas modas que algum “sobredotado” lá decidiu pôr em circulação, muitas vezes algo que não dê muito trabalho a pôr as pessoas a pensar. Clara Ferreira Alves no seu artigo do Expresso desta semana diz que as pessoas não lêem, porque “as pessoas tem que se esforçar (...) é preciso aprender. Tentar, errar, tentar de novo, até chegar ao prazer de ler...“ e pelos vistos as pessoas não estão para isso. Que pena!!!

Este texto que agora escrevo, faço-o na praia, no meio da areia, com uma caneta emprestada por um miúdo ali ao lado, que por acaso começou a ler um livro de banda desenhada. Faço-o num papel de embrulho da pastelaria donde veio o meu lanche, mas sabe amigo leitor, tinha este desejo de partilhar convosco como é importante ler, importante aprender, e que o maior investimento que podemos fazer é comprar livros, é neles que encontro o meu equilíbrio, onde tantas vezes encontro as saídas para os problemas do meu dia-a-dia.

Embora veja por aí cada vez mais catálogos que falam de livros para férias, o resultado é quase nulo, por isso aconselho-o este ano a comprar um livro, a dedicar-se a ele, a imaginar-se a personagem (se for um romance), ou então a levar um marcador fluorescente para poder sublinhar aquilo que mais o tocou (no caso de ser um livro de auto-ajuda ou doutro tema)... vai ver que se sente melhor, vai ver que aprende mais.

Quanto a mim, cá vou improvisando prateleiras em casa para guardar os muitos que já li e os outros que ainda quero ler, e sempre com uma sensação de grande frustração pois nunca conseguirei ler na vida tudo aquilo que gostava.

Amigo leitor, boas férias e boa leitura.

Cláudio Anaia

Este texto foi publicado em Agosto de 2003

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