“A mentira corre o mundo enquanto a verdade ainda calça os sapatos.”
Jonathan Swift
A verdade morreu, mas ninguém reparou. Entre likes, partilhas e discursos fabricados, a sociedade parece mais interessada em acreditar do que em saber.
Vivemos numa era em que a informação circula em velocidade recorde, mas o rigor e a verificação parecem obstáculos a evitar. Cada opinião é apresentada como facto, cada narrativa conveniente ganha mais atenção do que a realidade, e os limites entre mentira e verdade tornam-se difusos. No meio deste caos, questionar o que nos é apresentado deixou de ser um acto natural e passou a ser uma exceção — uma atitude de resistência.
Esta cultura do imediatismo e do descarte estende-se a tudo: ideias, valores e  até pessoas. O que ontem tinha relevância, hoje é esquecido; o que importa é a emoção momentânea, a sensação de estar “por dentro”. O que se destaca é a política das aparências: líderes que privilegiam a imagem e o espetáculo em detrimento da substância, discursos curtos que emocionam, mas não
esclarecem, ações simbólicas que substituem medidas concretas. A verdade factual é sacrificada em nome de likes, aplausos e manchetes chamativas, transformando a política num teatro de conveniências.
Paralelamente, vivemos a doença do consumo. Não se trata apenas do consumo de bens materiais, mas do consumo de ideias, opiniões e relações.
Tudo é descartável, rapidamente substituído pelo novo, pelo imediato, pelo efémero. A cultura do descarte alimenta uma ansiedade constante: precisamos de mais, mais rápido, mais agora — e esquecemo-nos de parar para refletir, questionar ou compreender. Esta aceleração da vida contribui para enfraquecimento da verdade, que exige tempo, atenção e profundidade para ser compreendida.
Neste terreno fértil, uma das doenças é o wokismo, que se instala muitas vezes
de forma maliciosa. Ideologias que prometem justiça social, transformam-se em instrumentos de censura, em juízos rápidos e definitivos sobre o que é aceitável pensar, dizer ou sentir. A nuance desaparece, a complexidade é sacrificada em nome de uma moral rígida e conveniente, transformando o
debate público num campo minado, onde o pensamento crítico é punido.
A verdade, nesse contexto, não é apenas ignorada — é descartada. E enquanto nos distraímos com debates de palco, hashtags virais e narrativas convenientes, a realidade continua a ser moldada não pelo que é verdadeiro, mas pelo que é popular ou seguro.
Mas nem tudo está perdido. Recuperar a verdade exige coragem, atenção e consciência. Cada escolha que fazemos — partilhar sem pensar, acreditar sem questionar, ceder ao impulso momentâneo — contribui para o avanço da ilusão ou para a reconstrução da realidade. É tempo de despertar. É tempo de exigir de nós mesmos, discernimento, responsabilidade e ética.
A morte da verdade não precisa de ser definitiva. A mudança depende de todos
nós, da nossa consciência, das nossas decisões e da nossa recusa em aceitar
como norma aquilo que é apenas conveniente. É hora de agir, antes que o tempo nos faça cúmplices da ilusão e da mentira.
Cláudio Anaia
