quinta-feira, fevereiro 11, 2016

UMA VERDADE QUE PODE SER INCONVENIENTE



Introdução

Estávamos em Novembro de 2015 quando foi aprovada a lei da adopção por parte de casais do mesmo sexo. Devido à sensibilidade e extrema importância do tema, sou da opinião de que pode(ia) e deve(ia) haver um debate o mais alargado possível (dentro e fora do Parlamento) para que esta decisão seja verdadeiramente democrática. É a democracia e a possível decisão de legislar sobre este assunto que ganham com isto: vale a pena, portanto, falar sobre a possibilidade dos casais homossexuais adoptarem crianças antes de se tomarem decisões. Neste sentido, e sem pretensiosismos, aqui fica a opinião de um mero cidadão sobre o tema.

A meu ver este tema, apesar da sua enorme delicadeza e complexidade, deve ser, por um lado, analisado com o máximo de pragmatismo, sem quaisquer sentimentos à mistura, por outro, não deve ser apreciado através das lentes do preconceito. Isto é, argumentos a favor como: “Sou a favor porque qualquer pessoa, se desejar, tem o direito de adoptar” ou argumentos contra como: “Sou contra a adopção por parte de casais homossexuais, porque sou homofóbico.”, não são válidos na minha análise. Vou argumentar que sou contra a adopção de crianças por parte de casais homossexuais sem me servir de estudos de psicologia, da religião ou do preconceito. Apenas e somente daquilo que considero uma VERDADE IRREFUTÁVEL.

Antes de continuar a ler este artigo, saiba que ele assenta em 3 pressupostos elementares: Primeiro, para mim: VERDADE é sinónimo de BEM, no seu sentido mais lato. MENTIRA é sinonimo de MAL, também no seu sentido mais lato. Segundo, o meu objectivo será, sempre que possível ir atrás da verdade, praticando assim o BEM. Terceiro, devemos sempre partir da óptica da criança e nunca do casal adoptante. Só assim garantimos o superior interesse da mesma. Não se esqueça que ninguém tem o direito a adoptar uma criança. A criança é que tem o direito de ser adoptada. Portanto, não se trata dos direitos dos homossexuais, mas sim dos direitos das crianças.

 Argumento 1: Posto isto, na minha opinião, ser a favor desta lei é ser a favor de uma mentira.
É mentira dizer que uma criança tem 2 mães ou 2 pais. É mentira. 1 criança tem 1 pai e 1 mãe. Esta é a verdade. Pode ser dura, mas a verdade é sempre dura.

Argumento 2: Admito ser sensível ao argumento de que os casais homossexuais têm amor para dar às crianças e que, por isso, podem adoptar. Pode, de facto, apetecer-nos cair nesta tentação e dizer que sim, que podem. Mas isso seria deixarmos o desejo de ser pai/mãe sobrepor-se ao superior interesse da criança. A questão aqui não é se eles são capazes ou não de amar uma criança. É óbvio que são. Que isto fique bem claro. Todo o ser humano é capaz de amar. TODO. A questão aqui é a VERDADE. Todos nós, incluindo as crianças (e SOBRETUDO ELAS) merecem a verdade. Não nos podemos desviar dela. Na minha opinião, o superior interesse da criança é a verdade e não faz sentido que seja de outra maneira. A Verdade de ter 1 pai e 1 mãe!

Argumento 3: O argumento típico apresentado pelas pessoas que são a favor: será que uma criança estará melhor numa instituição a ser maltratada ou com um casal homossexual que lhe dá amor? Bem, posto assim o argumento, é óbvio que as pessoas vão dizer: ser adoptada pelo casal. O problema é que as coisas não podem ser vistas desta maneira. Este argumento é bastante frágil, porque pode ser rapidamente colocado na lógica inversa: será que uma criança estará melhor numa instituição ou com um casal homossexual que a maltrata? Neste caso, aplicando o mesmo raciocínio, a resposta seria: permanecer na instituição. Esta questão não pode ser, portanto, construída com base em casos particulares. Deve partir sempre da VERDADE! E a verdade é que, mais uma vez, todos nós temos ou tivemos um pai ou uma mãe! Neste sentido, ser adoptado por 2 homossexuais é, segundo o meu ponto de vista, uma não solução.

Argumento 4: Sei que usam o argumento de que também é possível a adopção monoparental. É verdade, é possível, mas essa não vai contra a natureza humana. As pessoas também morrem. Isso faz parte da nossa natureza. Há muitas pessoas que foram educadas por apenas o pai ou a mãe. Por isso, apesar de não ser a situação ideal para a criança, é uma possível solução, a meu ver.

Argumento 5: Também há pessoas que dizem que há já casos de sucesso de crianças, agora adultas, que foram adoptadas por casais homossexuais e que são pessoas estruturadas. Primeiro, esta questão de “pessoas estruturadas” é uma questão muito mais complexa do que se faz parecer e, por isso, deve ser analisada com muito maior profundidade e cautela. Segundo, ainda bem que esse adulto é “aparentemente” (e espero que realmente) uma pessoa estruturada, mas a verdade é que ele não é uma experiência. Experiência no sentido em que: vamos permitir que esta criança tenha 2 mães ou 2 pais e se resultar, então é porque pode ser. Não pode ser, porque é mentira! Temos 1 pai e 1 mãe, diga-se o que se disser! Para além disso, também haverá casos de crianças adoptadas por casais do mesmo sexo que correrão mal, como em tudo na vida. Mais uma vez, temos de nos focar na VERDADE. 

Argumento 6: Mas vamos partir do pressuposto que sou a favor da lei da adopção por parte dos casais homossexuais. Pergunto, então: se permitimos que uma criança tenha 2 mães ou 2 pais, isto é, se ousamos por em causa o sexo dos pais (masculino ou feminino), então porque não ousamos também pôr em causa o número de pais dessa criança? Será que também sou a favor que uma criança tenha, por exemplo, 3 mães e 3 pais? 1 mãe e 7 pais? 10 mães? Se sou a favor que uma criança tenha 3 mães e 3 pais, qual é o meu limite? Se sou contra que uma criança tenha 3 mães e 3 pais, porque sou a favor que uma criança tenha 2 mães? Qual é o critério? Repare que entramos numa rua muito perigosa: a rua do relativismo. Vale tudo, todos podemos ser pais e mães de crianças, basta querermos. NÃO. Não pode ser! E porquê? Porque não corresponde à verdade! A criança precisa de 1 pai e 1 mãe! Vou voltar a repetir: cada ser humano tem ou teve um pai e uma mãe. Isto é tão verdade como termos de comer para sobreviver, de beber água para sobreviver, termos necessidades fisiológicas por satisfazer, termos frio, calor, adoecermos, crescermos e por fim, morrermos. Tudo isto faz parte da nossa natureza. Ninguém foge dela, NINGUÉM. Quer queiramos quer não! Negar isto é negarmo-nos a nós mesmos!

 Conclusão: Tenho consciência que este artigo irá causar bastante polémica. Peço só que quando pensar nesta questão, ponha-se no papel da criança e não do casal homossexual adoptante. Pense que quando era criança teve 1 pai e 1 mãe (mesmo que fossem só memórias); pense que teve o direito a esse pai e a essa mãe e que também a criança deverá ter esse direito – ou seja, o direito à verdade. Quando me perguntam: “Achas que tens o direito de negar a 2 homossexuais o desejo de formar uma família, ou seja, de adoptar uma criança?” Eu respondo, com extrema dificuldade: “Eu não acho que tenho esse direito, acho que tenho o dever. Tenho o dever de falar a verdade, mesmo que isso me custe, a mim e a esse casal. Porque o foco deve ser posto na criança e não no casal”. Cumpre, por fim relembrar, antecipando uma possível confirmação do diploma vetado pelo Presidente em fim de mandato, que nenhuma lei muda a verdade. Aliás, a lei deveria SEMPRE partir dela. Não é por uma lei dizer que o céu é verde que ele deixa de ser azul.

Coube-me a mim falar da verdade, por muito que isso me custe, mas alguém tinha de o fazer. 

Lourenço Simões