É quase paradoxal o modo como os Evangelhos contam a Ressurreição. Desconcerta que não exista, nos discípulos, uma crença imediata, que não considerem as provas avançadas sem refutação ou não tomem os primeiros testemunhos por inabaláveis.
A notícia da Ressurreição começa por ser vivida com suspeita, desconfiança, receio, distância. A frase de Tomé, "Se eu não o vir não acredito", é, no fundo, a posição de todos. A notícia circulava em voz baixa, como uma insinuação que não era tomada muito a sério. Os dois discípulos de Emaús já a tinha ouvido, mas mesmo assim estavam dispostos a abandonar tudo. Contudo, o anúncio da Ressurreição vai crescendo. Mesmo não acreditando nas mulheres, Pedro e João correm ao sepulcro. E João vê o silêncio dos sinais e acredita. Os dois discípulos foragidos reconhecem Jesus numa hospedaria de estrada e regressam a Jerusalém. O próprio Ressuscitado vem ao encontro de Pedro e dos discípulos atravessando as portas que eles tinham fechado. E Jesus estende as mãos às dúvidas de Tomé. Pouco a pouco, é em torno àquilo que primeiro declararam impossível que eles se reúnem e vivem.
Recordo-me do conselho despretensioso que um Padre do Deserto dava a quem o interrogava insistentemente sobre os mistérios de Deus: "Entra apenas. Permanece até ao fim. E sai mudado".
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Os 3 pensamentos são da autoria do Pe. José Tolentino Mendonça
