O Papa publicou recentemente a sua quarta encíclica do
pontificado, “Dilexit nos” (amou-nos), onde mostra a sua preocupação,
por estarmos cada vez mais, a viver um mundo sem “coração”, preso ao consumo e
à violência.
Num documento com 220 pontos,
divididos por cinco capítulos, uma introdução e uma conclusão, o Papa Francisco
denuncia “uma sociedade cada vez mais dominada pelo narcisismo e pela
autorreferencialidade”, falando numa “sociedade anticoração”, sem capacidade
para “relações saudáveis”.
Num texto dedicado à devoção ao
Coração de Jesus, é bastante assertivo e faz uma leitura bem real dos dias de hoje,
quando afirma: “Hoje tudo se compra e se paga, e parece que o próprio sentido
da dignidade depende das coisas que se podem obter com o poder do dinheiro.
Somos instigados a acumular, a consumir e a distrairmo-nos, aprisionados por um
sistema degradante que não nos permite olhar para além das nossas necessidades
imediatas e mesquinhas”.
Não esquece o momento difícil que
o mundo está a viver com várias guerras e declara: “Assistindo a sucessivas
novas guerras, com a cumplicidade, a tolerância ou a indiferença de outros
países, ou com simples lutas de poder em torno de interesses de parte, podemos
pensar que a sociedade mundial está a perder o seu coração”.
Nesta encíclica, várias passagens
recordam a sua carta apostólica «Evangelli Gaudium» onde diz que “a
economia do Ocidente é aquela que «mata»”, em que destaco por exemplo: “Há quem
se interrogue se isto tem actualmente um significado válido. Porém, é
necessário recuperar a importância do coração quando nos assalta a tentação da
superficialidade, de viver apressadamente sem saber bem para quê, de nos
tornarmos consumistas insaciáveis e escravos na engrenagem de um mercado que
não se interessa pelo sentido da nossa existência”
O Papa alerta para riscos de
manipulação de informação nas plataformas digitais, declarando: “O algoritmo
que actua no mundo digital mostra que os nossos pensamentos e as decisões da
nossa vontade são muito mais padronizados do que pensávamos. São facilmente
previsíveis e manipuláveis” e ainda que “Movemo-nos em sociedades de
consumidores em série, preocupados só com o agora e dominados pelos ritmos e
ruídos da tecnologia, sem muita paciência para os processos que a interioridade
exige”.
Termina a encíclica com uma
oração, para que o mundo, “que sobrevive entre guerras, desequilíbrios
socioeconómicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é
mais importante e necessário: o coração”.
A encíclica pode ser lida integralmente em: https://multimedia.opusdei.org/doc/pdf/Dilexit%20Nos%20-%20Papa%20Francisco20241028155024543366.pdf