No outro dia decidi comprar via Olx uma garrafa reutilizável de 2 litros. Uma menina da Tupperware estava a vender umas novas e ficou tudo combinado para ir ter com ela à frente do Hotel Açores na Praça de Espanha. Aquela zona está toda em obras, tive que deixar o carro mal estacionado mesmo em frente ao hotel, e fui procurar a minha vendedora.
Vejo um polícia todo fardado, todo fluorescente a dirigir-se a mim e eu a pensar por qual dos crimes me iria interpelar. Estava fora de casa, em pleno confinamento, mal estacionada e com dinheiro na mão para estabelecer um negócio no meio da rua. Continuei a caminhar e percebi que vinha mesmo ter comigo. Começo a perceber um volume azulado na mão direita dele dentro de um saco de plástico transparente. Era a garrafa. E ele era a minha amiga do Olx. Ri-me nervosa e expliquei que não estava à espera. Ele sorriu sem perceber bem o que é que eu não estava à espera, até porque eu não expliquei, deu-me a garrafa e eu perguntei se era mesmo nova. Atenção, perguntei ao polícia se não estava a ser enganada com uma garrafa em segunda mão. Ele disse que era nova, dei-lhe 15€ para a mão. Ao pé da estrada, os carros a passar devagar e eu a passar dinheirinho vivo para a mão do polícia. Ele passou-me a mercadoria e adeus bom dia e muito obrigada senhor agente, vou só então recolher-me ao meu dever domiciliário e tirar o carro que está no meio da estrada com 4 piscas.
Porque é que um agente nos deixa sempre nervosos? Mesmo que tenhamos tudo em dia no carro, não haja álcool no sangue, a morada esteja certa na carta, inspecção em dia, seguro pago, luzes bem alinhadas, telefone fora da mão, tubo de escape sem lançar fumarada, eu sei lá, a check-list toda e o senhor polícia pede-nos para parar e todo um nervoso se apodera de nós. No outro dia comentava com uns amigos, que também tenho um bocado a mania da perseguição. Por exemplo tenho um stress que o alarme toque quando saio de uma loja, mesmo que não tenha comprado nada. Tenho sempre medo que venha agarrada a mim uma peça de roupa, presa na perna, no sapato, ou pendurada na minha mala ao passar num corredor e eu seja apontada como ladra, à porta da Zara.
Mas eu juro que nunca roubei nada na vida por isso isto só pode vir de uma vida passada.
Inês Felix