segunda-feira, março 27, 2017

Conversas Finais De Bento XVI, com Peter Seewald



Peter Seewald é um jornalista alemão que nasceu em 1954 numa família muito católica. Trabalhou para as revistas Spiegel (1981-87) e Stern (1987-1990). Acompanhou Joseph Ratzinger durante as últimas duas décadas. Vive em Munique. O único Papa da era moderna que se retirou do cargo de Sumo Pontífice quebra o silêncio e faz um balanço da sua vida e do seu pontificado. Com um interlocutor de longa data, o jornalista alemão Peter Seewald, conversa sobre a sua vocação, a bem-sucedida carreira de teólogo, a amizade com João Paulo II, os dias do Concílio Vaticano II, a sua eleição e renúncia em 2013, a relação com o seu sucessor, Francisco. É o seu testamento que agora a Dom Quixote edita em Portugal.

Gostou de ser Papa?
Diria que sabia que era ajudado e, por isso, estou grato pelas muitas e boas vivências. Mas foi também, naturalmente, sempre um fardo.

Durante o seu pontificado vieram a lume factos que durante muito tempo tinham sido encobertos?
Quis claramente fazer mais do que podia. Muitos disseram: «Ah, o Papa, agora, vai intervir!». E bem quis, mas podemos estragar mais do que consertar. É por isso temos de actuar devagar e com cautela. Exactamente quando é que foi informado sobre os problemas [da pedofilia]? Só o fui depois de tudo ter acontecido. Não compreendo como é que, sendo o caso tão conhecido, nenhum de nós deu por ele. Para mim é incompreensível, inconcebível.

O Papa Francisco falou de um lobby gay no Vaticano que era um problema. Também era esta a sua opinião? 
De facto, informaram-me da existência de um grupo, que entretanto desfizemos. Do relatório da comissão de três cardeais constava justamente que tinha sido identificado um pequeno grupo de quatro, talvez cinco pessoas, e desfizemos esse grupo. Se há, outra vez, grupos que se estão a formar, não sei, mas, seja como for, não se pode dizer que esses casos abundem no Vaticano.

Como Papa, foi apenas um reformador, um conservador ou, como dizemos seus críticos, até um falhado?
Não me posso considerar um falhado. Durante oito anos prestei o meu serviço. Houve muitos assuntos difíceis durante esse período. Eu sabia que o meu pontificado não seria longo.Não me sentia propriamente mal, mas é verdade que, no início, nos sentimos quase oprimidos por esse fardo. Temos de nos habituar a desempenhar as funções de Papa.

Está satisfeito com o mandato do Papa Francisco?
Sim. Uma lufada de ar fresco na Igreja, uma nova alegria, um novo carisma com o qual as pessoas se identificam; de facto, é algo bonito.

Fonte : http://www.leya.com/pt/