terça-feira, maio 10, 2016

O destino



Ainda que um homem misture a cal, é sempre Deus o construtor. O destino mistura as cartas, mas somos nós a jogá-las. Juntámos duas frases distantes entre elas quase três milénios, mas tematicamente complementares.

A primeira provém da antiga cultura egípcia: trata-se de um dito da Sabedoria de Amen-em-ope, escrito do século IX-VIII a.C., que deixou um importante traço também na Bíblia (no livro dos Provérbios 22,17 - 24,22).
A segunda citação está presente nos Aforismos da Sabedoria do Viver, do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860). São duas as perspetivas com que se examina o destino ou, para o crente, a Providência. De um lado, exalta-se a eficácia da ação humana, com a sua liberdade; do outro, reconhece-se que existe qualquer coisa, ou Alguém, que nos ultrapassa e que intervém no projeto da história humana.
Esta duplicidade deve conservar-se, segundo um equilíbrio que não é nem garantido nem simples. É preciso continuar a misturar a cal necessária para a construção do edifício da nossa existência, trabalhando com empenho e responsabilidade. Mas deve ter-se também a consciência de que não somos os únicos árbitros do resultado: não só porque nos apoia a graça divina, mas também porque há um mistério no projeto global do ser e da história.

Temos, portanto, nas mãos cartas que não valem uma sequência lógica e definida, mas somos nós que as devemos jogar com inteligência e habilidade para que obtenham um resultado positivo. Os extremos da resignação desencorajada, convencida de que os jogos já estão todos decididos, e da eficácia orgulhosa, certa de que tudo depende de nós, devem por isso ser evitados.

 A vida é dom e compromisso, é surpresa e certeza, é aceitação e reação ao mesmo tempo.

 P. [Card.] Gianfranco Ravasi In "Avvenire"

Fonte :Pastoral da Cultura