domingo, novembro 29, 2015

Aos 80, a Poetisa Adélia Prado reflecte sobre o mundo




Qual sua opinião sobre os projectos de lei que criminalizam todo tipo de aborto ?

“Não matarás”. Salvo se em legítima defesa. Como tornar legal o aborto se a criança, inocente, incapaz, dependente da mãe para viver também é titular do direito inalienável à vida? Qual vida vale mais? É bom não esquecer: a vida de qualquer um é um valor em si mesma. Se a gravidez é uma ameaça real à vida da mãe, instala-se uma situação das mais terríveis e complicadas que conheci até hoje.

Faz-se aborto por miséria, desespero, vergonha e egoísmo na maioria das vezes. As leis civis e religiosas se turvam diante deste problema, antes de tudo moral, de profunda complexidade e consequência. Necessita para sua resolução muita coragem e discernimento, que nem sempre andam juntos. As legislações, reconhecendo a natureza dramática do assunto, tentam contorná-lo para resolvê-lo. A letra é fria e muitas vezes mata. Apelo ao último juiz para o qual só existe um tribunal, o da consciência. Será sempre trágico agir contra a luz desse juiz. Não há, fora da minha consciência, quem me proíba ou me libere para o aborto. Obedecer a lei — para o sim ou para o não — nunca é garantia de paz interior. 

Decidir pela vida é obrigação do legislador. Considero “Meu corpo, minhas regras” uma empáfia, militância, cunha para extrair variadas vantagens, inclusive a tentativa de descartar a consciência com aval político.

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