segunda-feira, setembro 19, 2011

Você emprestaria dinheiro a um país assim?


"Primeiro foi a instituição militar a fazer novas contratações e a aumentar a despesa sem cobertura na lei. Depois foi a contratação de 6500 funcionários para o Estado, também sem cobertura legal. Esta semana soubemos que na Faculdade de Direito se continuam a abrir "concursos de progressão de carreira". Também proibidos por lei. Ontem o Governo anunciou o fecho de 137 organismos do Estado mas disse não saber quantos dos funcionários afectados têm vínculo à função pública! Como? Então o Estado não sabe o que tem em casa?

Estas situações são a confirmação de que existe em Portugal um Estado dentro do Estado: uma organização com vida própria, que não acata as decisões de quem foi eleito para tomar decisões. Assim percebe-se porque sobe continuamente a despesa pública. Assim percebem-se as derrapagens financeiras das regiões autónomas, o sobreendividamento das autarquias, os investimentos desenhados para modernizar o país mas que servem apenas os interesses dos "lobbies"...

Era a isto que se referia Vítor Gaspar quando dizia que a reforma do Estado passa pela alteração da sua forma de funcionamento? Esperemos que sim. Porque nenhum país se pode reger desta maneira: sem informação estatística fiável (experimente perguntar a Paulo Macedo ou a Nuno Crato se têm informação credível sobre o universo dos seus ministérios…) e com um exército de decisores que faz o que quer e o que lhe apetece. Pisando a lei.

Em qualquer país sério coisas destas seriam sancionadas com processos judiciais. E, provavelmente, com cadeia. Em Portugal damo-nos ao luxo de assistir a este terceiro mundismo sem que alguém seja responsabilizado. Caro leitor, você emprestaria dinheiro a um país assim?"

(Camilo Lourenço)