Saudade
O amor é assim…
Não se explica apenas se sente ou não.
Ninguém nos ensina a amar é intrínseco e talvez genético.
A formula do amor também ninguém a sabe.
Ou se a descobriu guardo-a consigo sem partilhar.
A maior prova de amor é libertar alguém que sofre.
Na altura certa partiste…
Mas o egoísmo é imenso e nesse momento em que nos sentimos mais humanos, frágeis e vulneráveis.
Temos a perfeita noção de como somos insignificantes, impotentes…
Confesso que perdi a minha árvore, o meu porto de abrigo, a minha âncora.
Senti-me perdida…
Avó, sinto falta do teu cheiro a pó de arroz e a perfume, das tuas mãos que seguravam as minhas, dos colares com contas de vidro azul que punha à volta do meu pequeno pescoço e cantava em cima da tua cama imaginando ser grande!
As histórias dos teatros,
Os fados da Amália e das longas lágrimas que vertiam dos teus olhos, quando a ouvias…do amor impossível que viveste com o meu avô.
Da coragem de seres mulher.
Do coliseu cheio quando me levavas ver o Circo, das viagens no eléctrico de janela aberta, mesmo no Inverno, do miradouro de Santa Luzia e das flores que parecem uvas e… Lisboa!
Do teu imenso colo, das nossas gargalhadas pela noite.
Da cumplicidade, da ternura, do amor…das palavras, dos olhares.
Este amor que sinto e não consigo extinguir.
As lágrimas de saudade que não consigo conter, são o amor mais puro.
Aquele que ninguém aprende e apenas sabe que sente…e se traduz em Saudade.
E tu sabes ler o meu coração.
Dedicado a Alzira Vieira nascida a 22 de Outubro 1916