terça-feira, julho 07, 2009

“Faço tudo pelo seu voto”



Perdoem-me a ironia, mas ao bom estilo do político português começo desde já por pedir desculpa pelo título pouco ortodoxo. Na mesma linha, não posso deixar de aproveitar para prometer que não pedirei o seu voto para qualquer partido, associação ou instituição. Por último, mas não menos importante, não terei qualquer vergonha em afirmar as coisas que todos nós sabemos, sobre uma série de situações que se passam em certos sitos e em denunciar as acções perpetradas pelos sujeitos do costume. O povo “sabe do que estou a falar”.

Enfim, se está cansado deste modelo de discurso convido-o a que reflictamos sobre a abstenção e, sobretudo, sobre a alienação generalizada dos cidadãos em relação à vida política do nosso País, da nossa Cidade ou até da nossa Freguesia.

Ao longo dos últimos anos, temos assistido a um progressivo afastamento, dos portugueses aos centros de decisão política apenas possível com a cumplicidade daqueles que não crêem na construção de uma democracia mais eficaz e participada.

O silêncio é mau companheiro mas desenganem-se aqueles que cedendo à lógica da crítica fácil pensam prestar um bom serviço à nação. Por outro lado, a crença generalizada de que todos os nossos representantes são iguais, está de tal forma enraizada que assombra até aqueles cujas práticas de serviço público são exemplares, assim como, os seus esforços em proporcionar mais qualidade de vida aos seus concidadãos.

Os elevados índices de abstenção, as iniciativas políticas despidas de cidadãos e a proliferação de modelos de intervenção cada vez menos focados nas ideias são a prova desta realidade. A vertiginosa descaracterização da outrora “nobre arte” de servir a coisa pública está bem espelhada na substituição do debate ideológico por exacerbadas discussões de personalidades cuja expressão máxima é a pessoalização da vida política, em figuras de motivações e capacidades técnicas duvidosas. Este cenário não só inibe a alteração do paradigma vigente como não mais faz do que aumentar as audiências de jornais e televisões, servindo apenas para sustentar comentadores profissionais da espuma dos dias.

Os sinais são demasiado evidentes para que possamos assobiar para o lado e demasiado profundos para serem resolvidos pelas velhas fórmulas que já deram mostras de, invariavelmente, funcionar contra quem as pratica e, em última análise, comprometer o futuro de todos nós.
Conscientes de que existe cidadania para além dos partidos, urge travar a batalha da moralização do sistema político e impõem-se-nos o dever de, de dentro da nossa esfera de influência, dedicar tempo e energia a combater os comportamentos que afastam cada vez mais os representantes daqueles que deveriam representar.
No entanto, perdoe-me o leitor que, com humildade, “lhe aponte o dedo”. Não ignoro que aqueles que, diariamente, como eu, trabalham, produzem e pagam impostos, dão já um valioso contributo para o desenvolvimento do país, ainda assim, gostaria que reflectíssemos sobre o que podemos fazer para melhorar a qualidade da nossa democracia:
Quantas vezes deixou de exercer o direito de voto, e se castigou a si mesmo, pensado que esse seria um excelente acto de protesto? Quantas vezes assistiu às reuniões dos órgãos autárquicos ou usou o período de intervenção do público, consagrado na lei? E quantas vezes utilizou do direito de petição, também salvaguardado pela legislação, para ter acesso à documentação das instituições públicas?

Tenho para mim que a classe política de cada país é um espelho da sua cultura e, por este motivo, não me restam dúvidas que, apesar da nossa participação não se esgotar no voto, cabe-nos, antes de mais, estimular o dever de escolher. Nos dias, 17 de Setembro e 11 de Outubro seremos chamados a fazer escolhas legislativas e autárquicas. Informe-se e participe pondo a sua criatividade e experiência ao serviço da comunidade. Não aceite que façam tudo com o seu voto.

André Pinotes Batista