É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Xutos & Pontapés
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Xutos & Pontapés
Não quero, com este artigo, apontar dedos a ninguém, nem dizer que uns são bons e outros maus. Primeiro porque acho que todos, de uma forma ou de outra, são responsáveis e segundo porque até nem é do meu feitio. Quero apenas reflectir, com todos vós, as realidades dos nossos dias.
Começo pelos meus amigos, que acabam cursos e que andam por aí, “aos caídos”, sem empregos, à espera de vagas num hipermercado, daqueles que pagam salários indignos para enriquecer os grandes senhores do dinheiro. Não esqueço o meu vizinho que trabalhou a vida inteira e que tem uma reforma que não chega aos 400 euros.
Enquanto na televisão são anunciadas grandes obras: pontes, TGV e aeroportos, num outro lado, que nem se lembram de noticiar, estão as instituições em que trabalho como voluntário, onde se denota que o problema da fome é cada vez maior, devido ao aumento do número de utentes. Está tudo ao contrário ou será que sou eu que estou enganado?
Se vou ao hospital tenho que pagar taxas moderadoras, se tenho uma operação tenho que esperar, em alguns casos, anos a fio, mas se uma senhora quer fazer um aborto não paga sequer uma taxa moderadora, passa a frente de toda a gente e depois, no fim, tem direito a um subsídio e a umas férias que variam entre 15 a 30 dias, tudo com o dinheirinho dos nossos impostos.
Ando na política há muitos anos é verdade, mas a desilusão é cada vez maior. Valores, princípios e ideologia desapareceram e vejo alguns amigos que até pensam em trocar a sua liberdade por um lugarzinho, ou melhor, um “tacho”. Noutros casos tornam-se logo em novos profissionais políticos e não sabem o que é trabalhar, ponderar, fazer contas para chegar ao fim do mês.
Cresci depois de Abril e gosto de rever em vídeo, com alguma regularidade, a revolta de um povo a lutar por melhores condições de vida, contra uma ditadura que oprimia homens livres, homens que lutavam. Hoje, vejo homens sem atitude, mais preocupados em “lixar” o parceiro para se safar…
Observo tudo a andar do avesso, o vigarista, o malandro a safar-se, a ficar bem na vida com bons carros, boas casas, a não pagar impostos……enquanto o “desgraçado”, aquele que trabalha, com suor e lágrimas, às vezes mal tem para comer.
Mas o que é isto? Os senhores do capital fazem falcatruas e safam-se, uns putos fazem uns downloads na internet e já têm um processo!
Qual foi o maior fracasso do 25 de Abril? Dois milhões de pobres. Em cada 10 portugueses dois passam fome. Vivemos numa democracia falhada!
Agora até já criaram uma lei em que quem quer recorrer à justiça (o que é isso?) tem que ter dinheiro e pagar logo desde o inicio. Sim, porque se não há “papel” pode esquecer a justiça. Isto é o “Quem pode, pode. Quem não pode, tem azar!”. Será isto, o que chamam de democracia?
Numa revolução, em que ergueram cravos em vez de armas, clamavam ideais que ficaram por isso mesmo…meras palavras. O 25 de Abril é uma fraude e quem o fez deve sentir-se frustrado porque não conseguiu abolir as barreiras entre o poder e o povo. O país contínua dividido entre o poder e o saber, entre a pobreza e a ignorância.
A verdade é que os séculos vão passando e as águas renovam-se, enquanto o povo continua impávido e sereno assistindo como plateia à sua própria degradação. O português é temeroso, passivo e raramente dá o passo em frente, afrontado pelo medo da mudança.
Apesar não haver ninguém como nós, portugueses, para gritar. Nada de diálogos. Quem fala mais alto é quem ganha. De preferência veste a pele de cordeiro e declara-se vítima, resulta quase sempre.
Porque para ir à luta, está quieto. Portugal, um país de brandos costumes, que aceita tudo de forma leviana… os sindicatos não são mais do que correntes dos pensamentos políticos que se sentam na Assembleia. Mas nada é grave. Mesmo quando um político “desvia” em proveito próprio, tornando-se manchete, e ao fim de algum tempo ainda consegue o pontapé de saída para um cargo superior.
Portugal, que apresenta no pequeno ecrã sempre as mesmas caras para comentadores políticos ou políticos comentadores. Alguém já percebeu a diferença? É que as caras são as mesmas, as críticas e as opiniões também… Mas a televisão não pára de nos surpreender, próxima grelha: Telelixo como de costume, Big Brother’s, entre outros, em detrimento do indivíduo que quer continuar sóbrio e equilibrado. Óptimo para os políticos que preferem o ignorante.
Portugal, para onde vamos? Eu tenho as minhas desconfianças … e você amigo leitor?
Cláudio Anaia
(Artigo publicado no Jornal Audiência em Abril de 2009)