segunda-feira, agosto 04, 2008

Pensar bem dos outros




O rapaz queria comer um gelado. Estava um calor impressionante. Ao aproximar-se o empregado, fez-lhe uma pergunta que para ele era de grande importância: «Por favor, quanto custa um gelado com cobertura de chocolate?». O empregado, sem muita paciência, respondeu de um modo brusco: «Dois euros». O rapaz consultou as suas “finanças” com atenção e voltou a perguntar: «E um gelado sem cobertura de chocolate?». O empregado nem queria acreditar no tempo que estava a perder com aquele miúdo. «Um euro e meio. E não me faças mais perguntas porque tenho muito que fazer. Queres o gelado ou não?». Pensava que aquele rapaz, uma vez que tivesse o gelado na mão, iria acabar por fugir sem pagar. Estava-se mesmo a ver. A juventude de hoje em dia era assim. Não respeitava ninguém. E ele, com a idade que tinha, mesmo que se esforçasse por correr, nunca o conseguiria apanhar.

O rapaz respondeu de um modo simpático, como se o empregado fosse a pessoa mais gentil que tinha encontrado nesse dia: «Gostaria, por favor, que me desse um gelado simples, sem cobertura de chocolate». O empregado trouxe o gelado e deixou a conta em cima da mesa. Retirou-se para atender outros clientes. No entanto, manteve um olho no rapaz com receio daquilo pudesse acontecer.

O rapaz agarrou no porta-moedas, pôs em cima da mesa algum dinheiro, segurou no gelado com cuidado e retirou-se do estabelecimento com um ar de felicidade. O empregado aproximou-se da mesa com a “certeza” de ter sido enganado. Ficou admirado quando viu um euro e meio em cima da conta. Ficou profundamente perturbado quando viu cinquenta cêntimos à parte. Era a sua gorjeta. Sentiu uma enorme vergonha e saiu a correr do estabelecimento. Queria pedir desculpas ao rapaz pelo modo como lhe tinha respondido e pelo que tinha pensado dele. Porém, como tinha previsto antes, não o conseguiu “apanhar”.

Pensar mal dos outros é sempre mais fácil. Não requer muito esforço. Se não tivermos cuidado, surge no nosso interior de um modo “natural”. Pensa mal e acertarás. Será que não nos damos conta de como é injusto este ditado popular? Mais do que expressar uma realidade objectiva, o ditado expressa uma realidade subjectiva. Tendemos a pensar mal e tendemos a acreditar que possuímos a verdade quando pensamos assim.

O único modo de vencer esta tendência é o esforço sincero por pensar bem dos outros. Por procurar compreender o seu modo de actuar, pondo-nos antes nas suas circunstâncias. Isto é especialmente importante quando nos relacionamos com os jovens. Como é fácil ouvir falar mal da juventude a quem já não a possui no seu interior. A juventude exterior é um dom emprestado. A juventude interior é um dom conquistado. Um dom que está relacionado com o esforço diário por não nos deixarmos levar pelo mais fácil. Com o esforço diário por pensar bem dos outros.