sexta-feira, julho 25, 2008

Não tenhais Medo!



Enquanto escrevo este texto sinto o meu coração apertado e a cabeça a andar á roda. Ainda custa a acreditar que o meu padrinho, o Padre Sobral, já não está entre nós.
Custa a acreditar que, se eu amanhã quiser ir até casa dele, ele já lá não estará, atrás da sua secretária para me ouvir, para me aconselhar e para me confortar quando a vida me pregar uma daquelas partidas inesperadas. Ou então que ele já não estará para sairmos no carro dele, para darmos um daqueles nossos passeios.
Volto a questionar, será que aquele que me ensinou a ser homem e a ser cristão já cá não está? Será um pesadelo que acabará assim que eu acordar?
Infelizmente, percebo que estou acordado e que acabo de perder um pai, um amigo e um companheiro, que me acompanhou quase toda a vida.
Sinto que agora vai ser muito mais difícil viver. Vai ser mais difícil porque me vai faltar aquele que me deu tantas vezes ajuda para caminhar…aquele que estava sempre disposto a confortar-me.
Começo a lembrar-me, como se de um filme se tratasse, as primeiras vezes que conversámos.
Eu era um garoto de 12 anos quando o abordei, ainda dentro da igreja:
- “ Quer ser meu padrinho?”
Ele aceitou de imediato. A partir daí foi uma relação de troca de sentimentos, de confidências e de muitas experiências.
Sempre me aconselhou qual o rumo a seguir para a minha felicidade, sempre baseado naquele que mais amamos: o nosso Jesus.
Fui catequista cerca de 15 anos e nas reuniões e nas homilias onde participei ele era implacável e directo, sendo impossível ficar-lhe indiferente.
Por tudo isso hoje costumo dizer que o cristão que sou e as convicções que tenho se devem a alguns dos seus ensinamentos.
Para os mais desfavorecidos e para os mais pobres este era de uma sensibilidade fora do comum e até sei de histórias (que não vou por aqui contar) que demonstram que este saiu prejudicado pessoalmente e ficou em dificuldades para estar ao serviço do próximo. E o que mais admiro é que fazia tanto pelos outros e sempre em silêncio, sem querer nada em troca ou para que outros vissem.
O meu padrinho assimilava o Evangelho e colocava-o em prática.
O meu padrinho foi um exemplo de testemunho de Jesus Vivo para mim.
Nas suas viagens trazia-me sempre uma lembrança.
Foi na adolescência uma juventude sempre presente, sempre disponível para ajudar.
Nem sempre tudo correu bem, é um facto, mas também não é menos verdade que depois de uma boa conversa tudo ficava para trás das costas e lá ganhava um abraço e um beijo.
Quando foi homenageado pelos Rotarios, a organização informou-o de que poderia levar dois convidados, um deles fui eu…o que me deixou naquela altura muito feliz.
Transporto no meu coração tantas e tantas histórias que me ajudam a aliviar a sua falta…a sua ausência.
O meu padrinho era um bom rebelde, um irreverente e até na sua partida para o céu” partiu sem nos avisar, à sua maneira, sem permitir prepararmo-nos psicológica e emocionalmente para o vazio que iria provocar no íntimo da nossa existência, que tão bem soube orientar” como disse o Dr. Jorge Marques.
“ Não tenhais medo” ensinou-me ele e curiosamente foi sobre esta frase que o ouvi na última homilia há umas semanas atrás na missa.
Continuemos então a obra e a missão que ele soube, tão bem, pôr em prática na sua vida.
Até sempre padrinho, estarás para sempre no coração de todos aqueles que te amam.

Cláudio Anaia