
A televisão mostra cenas que nos provocam.
Pessoas que vivem junto de lixeiras e vão sobrevivendo dos restos do lixo. Pessoas a viver em barracas e palhotas sujas, nauseabundas, ou em casas que já não foram limpas há meses; vestem roupas que se desfazem no corpo, quais farrapos de limpar o chão... E pensar que essas pessoas poderiam até fazer alguma coisa para melhorar um pouco. Mas há pior.
E quando se trata de pessoas que somam actos de injustiça, roubos, homicídios, passam a vida a odiar e matar, a chafurdar em horrores de imoralidade, em violências sem número. Em...em... Às claras ou à ocultas.
E agora como fazer para melhorar essas vidas, essas pessoas? Fazer tudo em vez delas? Tirar-lhes liberdade e sujeitá-las a um programa higiénico forçado? A um a educação moral imposta? Mudar tudo? E esse tudo também muda as pessoas, mesmo que seja à força?
De qualquer das maneiras qualquer desses programas ou doutro melhor, requer que se fique junto delas. E quem aguenta? Mas se alguém ficar só pode ser para mudar tudo nelas e fora delas, por dentro e por fora. Por isso alguém só aguenta se for para viver com outra realidade, a sua realidade, e com “outras” pessoas e não aquelas.
Inculturar-se ? Não. Talvez colonizar. Nem incarnar. Incarnar é fazer-se um deles no seu mundo... Fazer-se uma dessas pessoas a viver no lixo, na podridão física e moral, sem o ser ? Quem seria capaz? Mesmo que fosse para, a partir da igualdade com elas, as ir mudando, quem aguentaria? Viver no lixo, mas mais que isso, ser “lixo” humano, rodeado de lixo?
E se alguém visse sob esse lixo “jóias” de rara beleza; e se apaixonasse por elas mesmo que mergulhadas no lixo de fora e de dentro? E se as amasse com tal amor que decidisse fazer-se uma delas na esperança de ser retribuído no seu amor e de assim as tornar como esse Alguém? Bem, só se for um “louco” que vê para além do que nós vemos e ame o que não parece.
Se Jesus Cristo o Filho de Deus assim amou até ser tratado como “lixo” e tornado sangue vivo e morto pelo “lixo” moral de pessoas, é porque as pessoas, apesar de tudo, tudo, valem mesmo muito. Valem mesmo mais que todos os tesouros do mundo. Valem o amor de Deus feito homem.
É neste drama imenso, com feliz fim, que somos convidados a entrar e deixar-nos apanhar nesta Semana chamada Santa.
Aires Gameiro