Andava eu tão contente, depois de ter acabado o “Big Brother”, o “Bar da TV” e programas afins, que, quando dou por mim, já novos programas do tipo andam ai de novo. Falo do programa “Casamento de sonho” apresentado pela Dona Júlia Pinheiro. Um programa com alguns jovens casais que, para além do ambicionado casamento e lua-de-mel, tem um prémio monetário de 100.000 euros, tudo isto sob a capa de um vergonhoso “Show Off” televisivo.
Um concurso sem quaisquer escrúpulos que indigna quem quer continuar sóbrio e a ver televisão sem “morrer intoxicado” com telelixo.
Pois é!... A manipulação de sentimentos de jovens anónimos, como o “Big Brother” teve como resultado o que aconteceu ao Zé Maria... Vamos ver, agora, com estes “noivos”, como é que isto vai acabar, numa falta de vergonha com algo muito sério, a união de duas pessoas.
Na minha opinião, a Alta Autoridade Para a Comunicação Social (que por vezes não sei para que é que serve) já devia ter posto um travão a este tipo de programas. O governo, que deveria zelar pelo interesse público, há muito já deveria ter criado uma lei específica para acabar com estes ataques à dignidade, para acabar com esta degradação.
A televisão existe para dar dinheiro, apenas para o lucro. O que não posso concordar é que, para atingir esse objectivo, se sirvam, de uma forma vergonhosa, do ser humano, expondo-o a impactos e sensacionalismos.
A TV é cada vez mais, uma guerra de audiências, um fenómeno socioeconómico, que cada vez é menos “sócio” e mais “económico”. Cada vez pior e com menos qualidade.
Este programa até coloca os ditos “jovens casamenteiros” a cantar e a dançar, servindo-se dos mesmos como marionetas, colocando os seus rostos permanentemente sob holofotes, vulgarizando os seus gestos, expressões, passos, fazendo-os viver, dia após dia, a representar uma farsa que tem tanto de improvisada como de medíocre.
Vamos lá ver se vai haver envolvimentos, sexo, violência e infidelidades e todos os mais comportamentos anormais, porque, se assim for, melhor ainda: é disso que o povo tanto gosta e a produção também.
Sou um optimista por natureza, mas estou preocupado. A auto-estima e outros valores, como a privacidade, que ainda há bem poucos anos nem sequer eram postos em causa, foram esquecidos.
O país rendeu-se aos que trocaram a sua privacidade por valores mercantilistas. Um ataque à intimidade, formalizado com um contrato e tudo.
Quando será que as pessoas entendem que este tipo de programa não passa de um negócio?
Um contrato em que uns tantos abdicam da sua privacidade, para que outros a possam, tranquilamente, “violentar”, de preferência com o maior número possível de espectadores e de lucro.
Para mim, seria provavelmente mais cómodo assistir, calado e resignado, a estes telelixos a que o Bispo de Liverpool apelidou de “Zoo Humano”. No entanto, apesar de com este meu texto dar alguma importância a este tipo de programas, faço-o com o objectivo de contribuir para a consciencialização do balanço negativo que este tipo de programação gera, principalmente, nas nossas crianças e adolescentes.
Caro leitor, espero que quem pode e quem manda perceba isto um dia.
Cláudio Anaia