quinta-feira, novembro 15, 2007

Filme da Semana: "Alpha Dog"de Nick Cassavetes

Alpha Dog prometia trazer uma história atractiva e no mínimo curiosa ao recorrer a um elenco júnior que poderíamos eventualmente ver apenas em filmes para adolescentes sem qualquer sentido, mas que foi no entanto muito diferente. A diferença? Ter vindo da mestria do realizador do The Notebook, Nick Cassavetes. E claro pela participação de Bruce Willis e Sharon Stone, como o encaminhar para uma plateia mais lucrativa.

A participação do jovem Emile Hirsch, que veio de um confortável The Girl Next Door, e de Justin Timberlake o cantor do Sexy Back e o autor dos sexy moves do mundo musical, atrairam provavelmente o que se viu ser 80% das audiências mundiais, mas ainda assim nem um nem outro se espalharam ao comprido como eu estava a espera, e isso quase bastou para o filme se tornar um bom filme.

Emile Hirsch é então Johnny Truelove, um drug dealer bastante moderno, inspirado na figura criminosa de Jesse James Hollywood, e filho de Sonny Truelove, interpretado por Bruce Willis. Cassavetes desfia as já esperadas cenas de crimes de uma forma impressionantemente imaginativa, derivado de um argumento que o próprio criou, e que é provocativo e que é bom sê-lo. Truelove, rodeado de amigos que transpiram a já esperada adolescência no seu lado mais puro e contagiante, vai-se metendo aos poucos e poucos numa aventura que vai acabar por julgar se o seu espírito é realmente anárquico ou se é simplesmente uma perseguição infiel dos passos percorridos pelo pai.

Aí entra Jake e Zack Mazursky, dois irmãos que em tudo se diferem e que no entanto é isso mesmo que os une, interpretados belíssimamente por Ben Foster e Anton Yelchin, sendo que Foster me tem impressionado bastante, e onde Zach se torna a única ponte entre uma amizade que foi envenenada pelo dinheiro.

Alpha dog vai percorrendo um lado quase virgem do crime hollywoodesco, onde este é contornado e quase exilado num sentimento humano e de amizade antes que seja atingido um clímax onde normalmente tudo se perde. Alpha dog não segue os contornos e parâmetros normais de um policial ou de um filme de acção, porque se divide em partes meramente fúteis e em partes que contêm a importância do coração humano, sem sequer ser pensada uma mistura dessas partes. Pela primeira vez a vítima passa de vítima a herói no seio da sua própria autonomia. Uma vítima acarinhada pelos seus agressores, que exploram inocentemente o seu interior, que abrem caminhos e portas de auto-conhecimento, e que são experiência no meio de terror, que é acima de tudo camuflado em amizade pura e genuína. E é maioritáriamente tudo isto que faz brilhar Alpha Dog, o contraste de um crime com as cores do amor incondicional e ainda assim tantas vezes condicional da família, da amizade e do preconceito.

Nick Cassavetes largou o salto entre o bom e o mau, e deixou-se cair no abismo esquecido da inocência, do espírito humano e do esquecimento do pulsar negro dentro de nós. E no fim, acorda-nos, para nos deixar bem claro que é um filme que vemos. E isso é realmente o delicioso acerca do filme. Ainda assim não é um filme estrondoso, mas o desfecho torna-o extremamente acarinhável, e quanto a avaliação técnica? Não é preciso. Isso sucumbiu ao maravilhoso plot e ao modo como se desfiou. Mas só para ficar assente não é digno de registo mas é melhor que muitos policiais convencionais que têm passado pelas salas de cinema ultimamente.

Madalena Tavares