
O Relances associa-se na ajuda para a recuperação do Pedro Freitas.
O Pedro teve um acidente que o deixou tetraplégico e sem movimentos em 90% do corpo, e pede ajuda de todos na sua recuperação, não hesite e vá a http://www.pedrofreitas.org/
Aqui fica um pouco da sua história contada pelo o próprio :
Descrição do acidente - Mergulho
Sou um jovem, com 28 anos, actualmente tetraplégico, devido a um mergulho ocorrido no período de férias na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, Brasil.
Após um longo ano de trabalho resolvi gozar as minhas férias junto com mais três amigos durante doze dias no Carnaval do Rio. Tive três óptimos dias nesta linda cidade de contrastes, ao quarto dia resolvemos passar mais uma tarde na praia antes dos festejos.
Tudo corria bem, até que quando brincava com um amigo, ele molhou-me com água de côco, e eu resolvi correr atrás dele entrando pelo mar a dentro e tentando alcançá-lo, ambos mergulhamos, ele à frente e eu imediatamente atrás chegando mesmo a tocar no pé direito dele antes de esbarrar violentamente no banco de areia que mudou a minha vida. Ninguém se apercebeu do que havia sucedido até que o meu corpo após cerca de dois longos minutos submerso subiu à superfície com a cabeça voltada para baixo na mesma posição em que embati na areia, foi então que alguém se apercebeu e imediatamente me socorreu puxando o meu corpo para a praia onde se juntou um aglomerado de pessoas à minha volta.
A medida que os segundos passavam, tinha mais certeza de que algo grave havia sucedido comigo o meu corpo não reagia e a expressão e curiosidade das pessoas servia de confirmação ao meu desespero.
Como sempre existe alguém bom que nos ajuda e nos marca pela positiva, foi assim que conheci um jovem brasileiro que apercebendo-se da gravidade da situação tomou iniciativa de me ajudar tratando ele próprio de chamar a ambulância que me conduziu ao hospital, rapaz este que mais tarde tornará a ajudar-me.Entretanto seguiram-se 45 longos minutos no percurso da praia, até ao hospital, aqui senti pela primeira vez o dissabor da impotência de nada poder fazer perante a falta de consciência dos outros, a minha vida já não estava na minha mão.
Uma discussão parva se seguiu, os profissionais!... Que compunham a equipa técnica da ambulância discutiam quem preencheria os documentos referentes ao serviço que estavam a prestar acabando por ser o próprio motorista a preencher os referidos documentos ainda no local do acidente. Para complicar a situação arrancamos continuando a discussão entre os referidos elementos, agora por causa do trajecto a efectuar, a juntar a tudo isto era dia de Carnaval na sua capital (Rio de Janeiro).
Finalmente, cheguei ao Hospital Miguel Couto, onde continuou o pesadelo, sai da ambulância e fui levado por um maqueiro que corria comigo sem se aperceber que me estava a torturar com todos os solavancos e corridas que dava pelo corredor do hospital dizendo-me uma frase que nunca mais esquecerei (aqui todo mundo corre e ninguém morre) abandonando-me friamente. Apercebi-me então que estava numa fila de macas onde se fazia a triagem dos mortos vivos que haviam chegado aquele triste terminal.
Fui me apercebendo que a triste realidade a minha volta eram sítio de dor, desespero e tristeza profunda inimaginável para mim até então. De onde uns não saem e outros ficam marcados para sempre.
Ao fim de algum tempo de espera fui finalmente atendido:Tentaram algaliar-me, sem sucesso não conseguindo, tendo feito um trajecto paralelo. Mais tarde na clínica Day Hospital colocaram uma sonda para drenagem na região supra púbica.Após ter tirado várias radiografias chegaram a conclusão de fractura na cervical a nível C5 e C6 e luxação no ombro direito. De seguida reduziram a luxação do ombro.Após estes primeiros (cuidados) permaneci na maca durante dois dias, onde praticamente não recebi cuidados médicos.
Finalmente, sem saber para onde ia, fui transferido de emergência para a clínica Day Hospital. Nesta clínica fui bem tratado e voltei a ter contacto com pessoas humanas a minha volta, todos os colaboradores da mesma eram bastante simpáticos, acessíveis, mostrando sempre disponibilidade pra me socorrer.
Aqui encontrei amigos entre os quais o maior deles, o meu pai que havia chegado pra estar ao meu lado, neste momento tão difícil das nossas vidas pois ele nunca me abandonou.Quem diria que apôs seis dias de me deixar no aeroporto da portela em Lisboa o meu pai me haveria de encontrar tetraplégico no Rio de Janeiro, bem longe de casa.É caso pra dizer que a vida é uma caixinha de surpresas e que nunca sabemos a sorte que temos, mas também nunca devemos desistir de tentar alcançar a sorte, com base nos valores princípios e educação que temos.
Nesta altura tudo era muito difícil, as permanentes e sucessivas aprendizagens sobre a minha nova realidade, eram como pesadelos que me potenciavam o sofrimento, todas as novas descobertas eram uma desgraça, esta que ainda hoje tento lhe por um fim. A descoberta da imobilidade a incontinência e a dependência gerada por esta nova realidade gerou um cataclismo ininterrupto de vivências tristes que me fizeram mergulhar numa tristeza com uma dimensão que eu desconhecia até então...
Recordo esta clínica com carinho, pois a seguir a casa foi o melhor sítio que encontrei pra viver.Ao fim de quinze dias de ser operado fiz o meu primeiro levante, uma experiência terrível pois não conseguia suster o peso da cabeça, no entanto, as aparentes melhoras não chegavam minimamente pra me animar a tontura, a falta de força pra respirar a imobilidade a minha nova companheira nem os braços me deixava levantar.
Todos me tentavam animar a maioria nem sabia como haveria de o fazer todas as palavras iam no sentido da força e da paciência que tu vais conseguir, na verdade não me conseguiam esconder uma forte preocupação e tristeza, pois à semelhança de mim próprio a crueldade dos factos era clarividente e tinha um carácter que se não definitivo me acompanhara durante muito tempo.O mesmo rapaz que me tinha ajudado na praia com a ambulância e sua namorada são os maiores responsáveis pela minha vinda para a clínica Day Hospital, visitando e acompanhando-me do início ao fim da minha estadia.