quinta-feira, maio 10, 2007

Testemunho de Vida


Durante as eleições do último referendo, conheci muitas pessoas e fiz muitos amigos.

Um deles foi o Pedro Duarte. Aqui deixo um texto em que ele fala dele e sua expêriencia de vida :

Sou apenas um espermatozóide que gostaria de ser gente. Se a Mãe Natureza deixar, hei-de conseguir. Parece que vai ser agora, os meus futuros pais estão a fazer amor… entrei no corpo da minha futura mãe, só falta encontrar o óvulo, e finalmente farei parte de um ovo (início da vida, neste caso a humana) … Ops! Já está, já sou um ovo. Sinto-me mais importante que nunca: já sou gente, mesmo sem ninguém saber.

Passaram os dias, 28 precisamente, e o meu corpo já conta com milhares de células a lutar pela vida, ainda que apenas a minha mãe suspeite da minha existência. Começaram os problemas… Tenho espinha bífida: uma má formação no tubo neural ou seja, no cérebro e na espinal-medula. Poderei vir a ter problemas de saúde como não andar, ser incontinente, etc… Mas o que é isso comparado com a alegria de nascer e poder viver?

Passou mais tempo, mais ou menos cinco meses, e agora deixei de me mexer. Posso estar a correr risco de vida mas não desisto. Os meus pais já há muito que me amam e estão a lutar por mim e pelo melhor para mim, que é NASCER, e estar sempre rodeado de bons profissionais de saúde e acima de tudo de muito AMOR.

24 de Outubro de 1971 Finalmente nasci! Mas… Nasci com uma saliência nas costas formada pela saída dos revestimentos da medula. Sou diferente, mas, não somos todos diferentes (gordos/ magros, brancos/pretos, louros/ruivos…)? Preciso urgentemente de ser operado e tenho 80% de probabilidades de morrer na operação, mas os meus pais, a família, os amigos, a equipa de saúde e sobretudo EU agarrámo-nos aos 20% restantes e fomos à luta. Graças a Deus correu bem, e a minha vida continua como qualquer outro bebé que exige cuidados especiais de saúde.

Hoje tenho 35 anos. Sofri um pouco com a falta de saúde. Fazendo uma retrospectiva à minha vida: passei por 13 intervenções cirúrgicas, 1,5 a 2 anos de internamento. Algumas manhãs, tardes ou noites no banco das urgências do hospital. Desde a última operação, já lá vão 16 anos, que continuo a ter problemas de saúde e a ir com alguma regularidade aos hospitais. Devido aos meus problemas de saúde, e tendo em conta que pertenço a uma família de classe média, não fizemos férias, não estudámos em colégios, não vestimos roupa de marca, mas o amor que sentimos uns pelos outros supera tudo.

Tendo em conta que tenho 35 anos, durante mais de 33 anos tive uma vida normal. Estudei, entrei no I.S.C.A. Agora tenho uma papelaria, uma casa onde sou independente: cozinho, arrumo e limpo a minha casa, recebo amigos. Em suma sou feliz e tento fazer os outros também felizes. Em 33 anos ALGUÉM mudou o mundo, portanto, penso ter valido a pena viver e cada dia que passa vale a pena estar vivo. Por isso tudo que passei e pelas oportunidade que a vida me deu, sinto-me obrigado a lutar para que não seja tirada a vida a pequenos seres humanos que não se podem defender.

Actualmente, pessoas como eu podem legalmente ser abortadas até às 24 semanas, pode-se tirar a vida a seres humanos cujas mães tenham sido violadas ou sofram de problemas de saúde. Para quê aumentar uma licença de morte já tão permissiva?

Pedro Duarte