sexta-feira, março 23, 2007
Os Girinos da Política
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O nosso país tem uma obsessão por temas fracturantes: aborto, eutanásia, clonagem, adopção por casais homossexuais, liberalização das drogas, legalização da prostituição, etc. De tempos a tempos, lá surge um destes temas, muitas das vezes lançado por alguns elementos das “Jotas” dos partidos com sede de protagonismo e de carreira política. A comunicação social normalmente pega no engodo e surgem inúmeras notícias sobre o assunto, apontando usualmente num único sentido. Na maioria das vezes não interessa o debate sério, nem sequer aprofundar os conteúdos. O posicionamento escolhido sobre os temas é imediatamente dicotomizado em dois tipos de pensamentos: o conservador e o progressista.
Do meu ponto de vista, o grande perigo reside precisamente aqui. Ou seja, na ausência de reflexão, na falta de informação que resvala geralmente para a perigosa manipulação das massas. Ao invés de vivermos numa democracia que privilegia o debate, e na qual, à partida, nenhuma ideia – apenas por que é diferente – é superior à outra, cai-se facilmente na tentação de fazer julgamentos sumários sobre as posições. No fundo, esta atitude resulta de pensamentos automáticos, numa reacção quase pavloviana. De resto, na maioria dos casos, quando se é contra à mudança sobre algum destes assuntos, suscita-se logo no interlocutor uma perplexidade e uma “quase obrigação” em justificar com extenso argumentário, tão estranha posição.
Do lado das mentes mais “progressistas” não existe um grande interesse em aprofundar estas matérias e muito menos se verifica uma vontade em escutar os fundamentos da orientação contrária. A cultura da superficialidade instalou-se. O progresso é associado à mudança, ainda que esta seja em direcção ao abismo.
Admito, porém, que não é muito confortável, para quem tenha algumas ambições políticas, assumir publicamente determinadas posições sobre alguns destes temas fracturantes, uma vez que há um preço a pagar por isso. A sua opinião é de imediato considerada como minoritária no “senso comum”, sendo prontamente descredibilizada como inúmeros epítetos pejorativos. Criou-se, deste modo, um ambiente de coacção e de intimidação para quem não pensa de acordo com aquilo que se considera “politicamente correcto”.
Aliás, a valentia política aparentemente está do lado de quem lança estes temas à discussão. Os “girinos da política”, animados pelo desejo de notoriedade e de ambição pessoal, não perdem uma oportunidade para tentar atirar com um destes assuntos para a discussão pública. No entanto, os verdadeiros problemas dos jovens permanecem por resolver: a falta de emprego, a desadequação dos cursos superiores ao mercado de trabalho, a redução drástica da natalidade, o aumento dos divórcios, a falta de apoio às mulheres que pretendem conciliar os cuidados dos seus filhos à carreira profissional, a falência da segurança social, a nova vaga de emigração de jovens para o estrangeiro, a falta de confiança no futuro do país, etc.
O hedonismo e o consumismo em que vivemos, não são questionados. A destruturação da família não parece preocupar a sociedade. Os temas discutidos reflectem não só uma cegueira política como uma absoluta decadência civilizacional.
Entretanto o tempo passa-se em discussões desfocadas e inúteis que se sucedem numa verborreia que se auto-intitula de progressista e visionária. Tudo isto até que finalmente o girino dê lugar a mais um sapo que na verdade nunca se irá transformar em príncipe encantado.
Pedro Afonso
Psiquiatra
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