sexta-feira, março 30, 2007
De porta em porta a ajudar e a ensinar as jovens mães
Sandra bate à porta e, num instante, como quem aguarda a visita com ansiedade, Cláudia, de 14 anos, aparece com o filho, de quatro meses, ao colo. O bebé desdobra-se em sorrisos enchendo de orgulho a jovem mãe. Já lá vão os primeiros meses em que o choro da criança a deixava nervosa, sem saber o que fazer. A nova vida está a forçá-la a perder a imaturidade da adolescência. E aos poucos, com os conselhos da psicóloga e educadora social, que a visitam semanalmente, vai aprendendo a tratar do Pedro.
Acompanhar as mães a quem o destino se antecipou, colocando-lhes nos braços bebés em vez de bonecas, é uma forma de prevenir riscos e de assegurar o correcto desenvolvimento das crianças. Este é o lema por que se move o "Serviço de Apoio Domiciliário a Jovens Pais", uma acção do projecto Matosinhos Activo, desenvolvida pela Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos (Adeima).
Sandra Costa e Tânia Sousa, psicóloga e educadora social, respectivamente, são a face visível do serviço, que funciona desde Setembro do ano passado, e apoia actualmente 11 famílias. O projecto não se cinge às jovens mães com crianças até aos três anos, como inicialmente previsto.
Isto porque, explica Luísa Mendes, coordenadora do Matosinhos Activo, "muitas vezes nessas casas há outros miúdos em risco". Ou seja, na prática, as 11 famílias correspondem a 54 pessoas. Todas sinalizadas pela Comissão de Protecção e Jovens de Matosinhos. A prioridade é dada mediante uma avaliação prévia das situações de risco.
Garantir cuidados básicos
Cláudia é dos casos mais fáceis para Sandra e Tânia porque, apesar da imaturidade dos 14 anos, tem uma boa rectaguarda familiar e apoio do pai da criança. "Há visitas em que não se consegue fazer nada com os miúdos", diz Luísa Mendes, explicando que, às vezes, é necessário começar pelo mais básico, como a limpeza da habitação e os cuidados mínimos de higiene com as crianças.
"Muito complicados" são também os casos de alcoolismo e toxicodependência dos progenitores e de violência doméstica.
Em casa de Cláudia, tal não se verifica. Há, por isso, tempo para estimular o desenvolvimento do bebé com um pequeno espelho, apropriado à idade, que o ajudará a criar laços de afectividade com a mãe e, mais tarde, a reconhecer a sua imagem.
Procurar uma creche
No meio da brincadeira, Sandra aproveita para se inteirar da alimentação da criança. "Agora só lhe dou o leite quando tem fome", responde Cláudia. "Não deves fazer isso, nesta idade têm de comer com intervalos de três horas e meia", replica a psicóloga, procurando contornar a imaturidade da jovem.O espelho que põe o Pedro a sorrir fica com Cláudia até à proxima visita. De regresso à sede da Adeima, Sandra e Tânia vão tratar de encontrar uma vaga numa creche, para que Claúdia possa regressar à escola em Setembro e concluir o 6.º ano. "Depois quero fazer um curso", dissera, momentos anos, a jovem mãe.
Inês Schreck in Jornal de Notícias