domingo, fevereiro 04, 2007

O "NÃO" saiu à rua em Setúbal



"Setúbal vai votar 'Não'!" foi uma das frases mais repetidas pelos manifestantes que ontem encheram as ruas da cidade, na "Marcha Setúbal Pela Vida". Apesar das palavras de ordem, Cátia Sá Guerreiro, da Plataforma Não Obrigada, reconhece que "este é um distrito duro para o 'Não'" e afirma que, por esse motivo, a "forte adesão" à marcha foi "uma agradável surpresa". A iniciativa, da responsabilidade da Plataforma através da associação local VivaHáVida, contou, de acordo com a organização, com "mais de duas mil pessoas". A estimativa das autoridades é mais modesta mas ainda assim aponta para "muito mais de mil". Para além de pessoas "de todas as freguesias do distrito" estiveram presentes alguns "amigos de Lisboa", entre os quais o líder nacional do CDS-PP, Ribeiro e Castro.

Da Rua Francisco de Sá Carneiro à Praça do Bocage, o grupo de manifestantes foi aumentando e tornando-se mais ruidoso. Segundo Cláudio Anaia, mandatário do movimento Aborto a Pedido Não, “o objectivo é marcar posição pelo direito à vida” e “contra a liberalização do aborto”. Para isso, reuniram-se apoiantes de diversos movimentos cívicos, como o Juntos Pela Vida, Alentejo Pela Vida “e também muitos socialistas, com a sua campanha Esquerda Pela Vida”, salientou Cláudio Anaia, também ele do PS. Para este defensor do “Não” “a partidarização deste debate é um erro” já que “não se trata de uma questão política, filosófica e muito menos religiosa”, mas sim de “uma questão básica de direitos humanos”.

Cláudio Anaia acusa mesmo os partidários do “Sim” de fazerem “uma campanha enviezada” por “saberem de antemão que a despenalização do aborto está prestes a acontecer com a revisão do código penal”, a qual prevê que todos os crimes puníveis com pena até três anos “deixem de ir a julgamento”. Assim, na sua opinião, o que está realmente em causa no referendo é “uma liberalização total do aborto até às dez semanas”.

A mesma opinião tem Ribeiro e Castro que lamenta que “o PS não tenha feito o agendamento da proposta de duas deputadas suas” no sentido de “uma evolução da lei processual penal, nomeadamente da suspensão provisória dos processos” e avança que tem, ele próprio “uma proposta nesse sentido”. O presidente do CDS-PP considera que “Setúbal só será propício ao ‘Sim’ se triunfarem as forças do obscurantismo e da ignorância”, uma vez que “nos últimos nove anos surgiram novas evidências científicas da vida intra-uterina, que é uma verdade que tem de ser partilhada com toda a gente”.

Cátia Sá Guerreiro considera Setúbal “um distrito em que esta questão está muito partidarizada” e em que “há ainda um grande desconhecimento da lei actual”. Esta enfermeira, que já fez campanha um pouco por todo o país, afirma que em Setúbal “algumas pessoas ainda falam em violação e em mal-formações”, situações que estão enquadradas na lei “há mais de vinte anos”. A representante da Plataforma Não Obrigada faz no entanto “um balanço positivo da campanha até agora” sobretudo em resultado das “sessões de esclarecimento”.

A “Marcha Setúbal Pela Vida” foi acompanhada por várias motos da PSP. Segundo o Chefe Marques, da Esquadra de Trânsito de Setúbal, “toda a manifestação decorreu sem quaisquer incidentes”, tendo envolvido “muito mais que mil pessoas”.

Ana Lúcia Delgado - 04-02-2007 21:44

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