Não...
... Não tolero ouvir nos media que mais um bebé foi abandonado numa qualquer casa de banho ou contentor do lixo.
Não consigo sequer compreender como uma mãe, ou qualquer outro grau de parentesco, possa maltratar, violar, descuidar ou até matar um bebé ou criança.
Não entendo palavras duras proferidas em tons de gritos a crianças e bebés que num instante de vida ainda aprendem, sempre pelo exemplo de quem lhes grita.
Não consigo disfarçar as lágrimas que se assombram no meu olhar quando visito o berçário do Refúgio Aboim Ascenção, ou as outras crianças que lá vivem.
Não consigo alterar a voz trémula que me escapa quando agradeço os abraços que todos eles me dão.
Não aguento de tanta dor perceber que a Humanidade não entende o direito à vida e confunde aborto com contracepção.
Não idealizo na minha mente mundos cor de rosa, mas imagino mentes esclarecidas... governos que gastem milhares em políticas de esclarecimento e doação de contraceptivos, em vez de milhares em campanhas políticas.
Não me enquadro nem me apetece tantas vezes, fazer parte de um eleitorado que aceita qualquer bagatela mentirosa que vem de alguém que quer viver à custa de um povo.
Não vou tolerar escusas e desta vez, farei parte da sociedade, acreditando nalguma mudança. Vou votar.
Porque não aguento mais que se duvide ou se ponha em causa quando e onde começa a vida. Começa em nós, meus senhores. O que geramos nas nossas barrigas, é apenas uma materialização daquilo que já somos: Vida. Se a matamos ao gerar, estamos a cometer também um crime contra nós mesmos.
Porque o caminho que cada Ser tem que percorrer não pode ser julgado por nós, ainda sem sequer ter nome. Mas já tem Vida. E quem somos nós para dispor dela?!
Se existem crianças abandonadas, maltratadas, e enfim, descuidadas, é porque a sociedade falha - e em muito -, principalmente na educação e no auxílio dos progenitores. Que fazemos então? Castigamos os seres que ainda estão para chegar, matando-os.
Faço o que sei de melhor: amo os meus filhos. E se os ensino a liberdade do amor, incondicional e livre, ensino-os a amar desde o primeiro instante: o gerar da Vida.
Porque sou mãe, porque os amo e porque já chega de brincar com coisas sérias, voto Não. Doída por dentro por todos aqueles que não percebem a benção da maternidade - pretendida ou acontecida -, mas consciente da Vida que se preserva.
Susana de Almeida Carvalho
Mãe da Mariana,8 anos, da Carolina de 7 anos e da Margarida de 4 meses.