Relance 228 Carta Aberta Exmo. Sr. ou Sr.ª:Vem isto a propósito do caso Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.Nasci e tenho vivido num pequeno concelho (Pombal) do Litoral-Centro(Distrito de Leiria). Não milito em nenhum grupo partidário. Sou um simplescidadão nascido seis anos antes do 25 de Abril de 1974.E como cidadão, ingénuo a pensar que haveria liberdade de expressão e deopinião, criei em Julho passado um "blog" na Internet que pretendia ser umespaço de reflexão e de debate de ideias, com críticas construtivas, sobreque está a acontecer na minha Terra. Nomeadamente sobre a actividade darespectiva Câmara Municipal e outras instituições. Esse "blog" num espaço dedois meses registou mais de 6.700 visitas, tendo sido comentado em grandenúmero por outros cidadãos/munícipes.A respectiva autarquia, presidida pelo social-democrata Eng. Narciso Mota,nunca usou o princípio do contraditório. Apesar de reconhecer que alguns dostemas abordados tinham a sua veracidade, alterou alguns procedimentos, dandorazão ao que por lá se escrevia.Reconhecendo que o "blog" era incómodo para o Poder (leia-se, CâmaraMunicipal), o senhor presidente entendeu que a melhor forma de usar o"contraditório" era acabar com o mesmo. Vai daí, entrou em contacto com adirecção/administração da empresa onde eu trabalhava e denunciou a suaexistência, fazendo ver que o "blog" era "gerido" em horas de expediente.A direcção da empresa de imediato, e justificando que aquela situação lesavaa relação institucional com a Câmara Municipal, até porque necessitava destapara legalizar algumas situações pendentes, despediu-me.Isto, não argumentando com falta de profissionalismo ou de produtividade.Mas sim, porque o senhor presidente da Câmara assim os contactou para oefeito. Esclareci a situação e comprometi-me a eliminar de imediato o"blog", o que foi feito e aceite. Precisamente um mês depois, e pelo meioalguns encontros realizados entre o presidente da Câmara e adirecção/administração da empresa, fui novamente confrontado com odespedimento. E perante duas opções: instauração de processo disciplinar oudemissão voluntária, optei pela segunda.Ou seja, a intervenção do senhor presidente da Câmara Municipal de Pombalneste processo é um facto. Tanto o é que um dos seus vereadores afirmouperante algumas pessoas "já acabámos com o blog".Esta situação é notoriamente idêntica à que aconteceu com o Prof. MarceloRebelo de Sousa. Na sua proporção, obviamente. Mas, com um senão... o meufuturo. Estou desempregado, com duas crianças de 20 meses para criar, casa ecarro para pagar. E esposa também desempregada.E tanto mais que, ainda há dias, ouvi da boca de um eventual empregador:"reconheço que és a pessoa indicada para o meu projecto, mas quando o senhorpresidente da Câmara soubesse, caía o Carmo e a Trindade. E eu não quero terproblemas com esse senhor".É triste que 30 anos depois de uma revolução, ainda haja quem de uma formanojenta e vergonhosa, censure as vozes discordantes para que estas nãoexpressem livremente as suas opiniões. Com os melhores cumprimentos Atentamente Orlando Manuel S. Cardoso |