quarta-feira, outubro 13, 2004

Relance 218

O Telelixo está de volta: a Quinta das celebridades

Andava eu tão contente, depois de ter acabado o “Big Brother”, o “Bar da Tv” e programas afins, quando dou por mim ja novos programas do tipo, andam ai de novo. Falo da “Quinta das celebridades”. Um programa com algumas celebridades, em decadência, que vêem aqui uma forma de voltar à ribalta, ao “Show Off” televisivo.

Um concurso, sem quaisquer escrúpulos, que indigna quem quer continuar sóbrio e a ver televisão sem “morrer intoxicado” com telelixo.

Pois é !... A manipulação de sentimentos, de jovens anónimos, como o Big Brother teve como resultado o que aconteceu ao Zé Maria... Vamos ver, agora, com estas celebridades, como é que isto vai acabar.

Na minha opinião, a Alta Autoridade Para a Comunicação Social (que, por vezes, não sei para que é que serve) já devia ter posto um travão a este tipo de programas. O governo, que deveria zelar pelo interesse público, há muito já deveria ter criado uma lei especifica para acabar com estes ataques à dignidade para acabar com esta degradação.

A televisão existe para dar dinheiro, apenas para o lucro. O que não posso concordar é que, para atingir esse objectivo, se sirvam, de uma forma vergonhosa, do ser humano, expondo-o a impactos e sensacionalismos.

A TV é cada vez mais, uma guerra de audiências, um fenómeno sócio económico, que cada vez é menos “sócio” e mais “económico”. Cada vez pior e com menos qualidade.

Este programa até coloca as ditas “celebridades” a tratar de animais, servindo-se das mesmas como marionetas, colocando os seus rostos permanentemente sob holofotes, vulgarizando os seus gestos, expressões, passos, fazendo-os viver, dia após dia, a representar uma farsa que tem tanto de improvisada, como de medíocre.

Vamos lá ver se vai haver envolvimentos, sexo, violência e todos os mais comportamentos anormais porque, s assim for, melhor ainda. É disso que o povo tanto gosta e a produção também.

Sou um optimista por natureza, mas estou preocupado. A auto-estima e outros valores, como a privacidade, que ainda há bem pouco tempo nem sequer eram postos em causa, foram esquecidos.
O país rendeu-se aos que trocaram, por valores mercantilistas, a sua privacidade . Um ataque à intimidade, formalizado com um contrato e tudo.

Quando será que as pessoas entendem que este tipo de programa não passa de um negócio?

Um contrato em que uns tantos abdicam da sua privacidade, para que outros a possam, tranquilamente, “violentar”, de preferência com o maior número possível de espectadores e de lucro.

Para mim seria provavelmente mais cómodo assistir, calado e resignado, a estes telelixos a que o Bispo de Liverpool apelidou de “Zoo Humano”. No entanto, e apesar de com este meu texto dar alguma importância, a este tipo de programas, faço-o com o objectivo de contribuir para uma consciencialização do balanço negativo, gerado por este tipo de programação, principalmente nas nossas crianças e adolescentes.

Caro leitor, espero que quem pode e quem manda perceba isto um dia.

Cláudio Anaia