Relance 178
Portugal embandeirado
A bandeira está na moda. Não é preciso estar muito atento para perceber que os portugueses estão com o espírito nacional bem aceso, pelo menos a julgar pelo número de bandeiras verdes e vermelhas espalhadas pelas cidades.
A dúvida persiste. Quem lançou o apelo que reuniu toda a nação em torno de um símbolo? Marcelo Rebelo de Sousa, no comentário de 24 de Maio na TVI, revelou ter recebido uma carta de «um jovem» chamado Bernardo Teotónio Pereira. «Porque é que os portugueses não põem a bandeira nas janelas? É uma prática habitual noutros países. Os espanhóis fazem muito isso. Porque é que não fazemos um esforço durante aquele período e expomos a nossa bandeira por todo o país? Faz bem ao ego moral», disse.
Luiz Felipe Scolari, treinador da equipa das quinas, foi o segundo a fazer o apelo, a dois de Junho, no final do estágio da selecção lusa em Óbidos. «Faço aqui mais uma convocação: que se coloquem as bandeiras de fora, de Norte a Sul do País, e que todos estejamos unidos», apelou o seleccionador.
Mas os mais anónimos também reclamam direitos de autor. Francisco Silva, um brasileiro de origem portuguesa, disse ao Correio da Manhã que quis trazer para Portugal o hábito brasileiro de enfeitar as ruas por altura de eventos de proporção internacional. Proprietário de um café em Alvalade, Francisco Silva transmitiu a ideia por carta, há três semanas, aos moradores do bairro. «Só depois a bandeiromania alastrou pelas restantes ruas da capital», revelou.
Jorge Sampaio gostou da ideia, chamou-lhe «muito interessante», mas apelou para que «não seja apeada no final do Euro. Deve continuar nos nossos espíritos e nos nossos actos».
Há também os mais cépticos. No fundo, os desmancha-prazeres. Chamam ao fenómeno «um nacionalismo barato, imediatista e pouco consistente». Carlos Fortuna, sociólogo, explicou-se. «A bandeira custa um euro. Face à consciência nacional de um défice de resultados positivos (do país), os portugueses querem sucesso rápido e imediato. O futebol resolve-se em 90 minutos».
Bandeiras portuguesas com pagodes chinêses
Da publicidade ao negócio foi um instante. Uma rede de hipermercados criou a iniciativa «HiperPortugal», que consiste num «kit» com bandeiras. Até à data, já foram vendidos cerca de 750 mil.
A procura de bandeiras tem sido tanta que a oferta quase se esgotou. O jornal «Expresso» deu uma ajuda na propagação do fenómeno e na edição de 10 de Junho, juntamente com o jornal, ofereceu cerca de 150 mil bandeiras.
Se contabilizarmos ainda o número de bandeiras já vendidas nas lojas de comércio tradicional e em vendedores ambulantes, facilmente se pode perceber que o número deverá ultrapassar o milhão.
Ainda assim, o fenómeno das bandeiras portuguesas está envolto em alguns escândalos. De acordo com a Lusa, a grande maioria das bandeiras que estão a ser vendidas são feitas a China, já que as casas de fabrico nacional «não têm capacidade para responder à procura». Em muitas das bandeiras nacionais, o brasão, em vez dos sete castelos, tem impresso pagodes chineses. Manuel Monteiro, líder do partido Nova Democracia aproveitou para mandar uns recados ao Governo: «Tanta coisa a garantirem que defendem Portugal e as empresas portuguesas, mas depois mandam fazer o material de campanha na China».
Ladrões de bandeiras
Mesmo com a venda de bandeiras um pouco por todo o lado, há muitos que preferem obtê-las de forma ilícita. Em Lisboa, junto ao Estádio da Luz, foram roubados de alguns prédios 21 mastros com bandeira e 12 mastros sem bandeira. Também na zona de Telheiras e do Campo Grande, os assaltantes levaram quatro bandeiras de cada um dos sítios.
No meio de tanta bandeira, há, certamente, alguns recordes batidos. Por exemplo, em S. João da Madeira, a fachada do edifício da Câmara Municipal ostenta uma mancha verde e vermelha de 210 metros quadrados: 17 metros de largura por 12 de altura.
É caso para dizer que Portugal está embandeirado
Artigo do Site : Portugal Diario