segunda-feira, maio 31, 2004

Relance 167

Boas Noticias no Dia Mundial Anti - Tabagista


.

Saúde aperta cerco ao fumo passivo


O Governo português prepara-se para proibir o consumo de tabaco nos locais de trabalho e nos restaurantes. A proposta da Direcção-Geral de Saúde (DGS) já está concluída e espera apenas a aprovação do ministro da Saúde. Na base da alteração legislativa está a protecção da saúde dos não fumadores em relação àquele que é considerado o principal poluente atmosférico nos espaços interiores. Está ainda previsto um agravamento das coimas para quem não cumprir.

Segundo Emília Nunes, responsável da DGS pela área do tabagismo, a proibição será comum a todos os locais de trabalho em edifícios fechados, «onde as pessoas passam em média um terço das suas vidas». E apenas serão permitidas salas de fumo em situações excepcionais: quando houver ventilação independente, de forma a que o fumo não se espalhe pelo edifício.

Os efeitos do tabagismo passivo estão já investigados e documentados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Além de poderem vir a sofrer de cancro, os não fumadores expostos ao fumo de outros têm um risco acrescido de doença isquémica cardíaca. José Calheiros, especialista em Saúde Pública, salienta que, para os doentes com problemas respiratórios, o fumo passivo aumenta a morbilidade associada à patologia. A medição da exposição pode ser feita através da presença de nicotina - e 88% da população não fumadora americana tem o componente no sangue.

Os restaurantes são outro local a sofrer restrições em Portugal. Os fumadores estarão impedidos de fumar em todos os estabelecimentos de pequena dimensão, enquanto os restaurantes com espaços maiores poderão criar salas livres de tabaco, em paralelo com locais para fumadores. «A solução não é a ideal porque a população não estaria preparada para uma medida tão radical», diz Emília Nunes.

Um estudo científico feito numa comunidade norte-americana demonstrou que a proibição do tabaco nos locais públicos pode estar associada a uma redução significativa (para metade) da admissão em internamento hospitalar de doentes por enfarte agudo do miocárdio.

Esta proibição «introduz benefícios para todos, incluindo para os fumadores, funcionando como uma motivação para deixar de fumar ou para reduzir o consumo», acrescenta. Investigações demonstraram já efeitos positivos da proibição do tabaco e, em 26 locais de trabalho (nos EUA, na Austrália, Canadá e Alemanha), a prevalência do hábito diminuiu 3,8% e o número de cigarros fumados baixou.

Emília Nunes salienta que o fumo do tabaco tem mais de 4000 tóxicos e que, se a medida poderá encontrar resistências numa primeira fase, será gradualmente bem aceite pela população, como tem acontecido noutros países.

Para dar o exemplo, a DGS lançou na sexta-feira uma circular, apelando às unidades de saúde para que cumpram a legislação em vigor, «mantendo os serviços livres de tabaco», removendo «cinzeiros e outros incentivos a fumar» e evitando a venda de cigarros nas suas instalações. Incentiva-se ainda a criação de consultas de cessação tabágica para profissionais e utentes.

A OMS considera que o fumo do tabaco tem uma acção cancerígena de grau máximo, não existindo um limiar seguro de exposição. Por isso, os níveis de fumo devem ser tendencialmente iguais a zero.

Emília Nunes afirma que «está provado que as mudanças na lei são as mais efectivas no combate ao tabagismo, tendo efeitos mais evidentes do que apenas as campanhas de informação e os códigos de boa conduta». Esta proibição integra-se «numa lógica de promoção de estilos de vida saudáveis e, além da informação, cabe aos governos criar condições estruturais para a adopção destes comportamentos».

O combate ao tabagismo poderá ainda passar pelo aumento do preço dos cigarros, que é tido como a medida mais eficaz para baixar o consumo. «Estimativas do Banco Mundial dizem que um aumento de 10 por cento leva a uma redução de 4% no consumo e, nos países menos desenvolvidos, pode chegar aos 8 por cento», explica. Uma decisão que não deverá ser adoptada nos próximos tempos em Portugal.

ELSA COSTA E SILVARUTE ARAÚJO (Diario Noticias)