quinta-feira, abril 22, 2004

Relance 145

Cardeal exorta cristãos a terem intervenção política

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) exortou ontem os cristãos a terem intervenção política, «em todas a frentes onde se decida a construção de um Portugal democrático com qualidade». Na abertura da Assembleia Plenária da CEP, a decorrer em Fátima até quinta-feira, o cardeal D. José Policarpo afirmou que, «através deles a Igreja tem de estar na política, porque quer participar na construção de um Portugal melhor».

«Com a mesma clareza que assumimos que nós, os pastores, não nos imiscuímos na política partidária, desafiamos os fiéis leigos a empenharem-se» na construção de um país melhor, «com generosidade, com a lucidez das opções claras e da definição de objectivos válidos», disse o Presidente da CEP.

Aos pastores, isto é, aos bispos e padres, segundo D. José Policarpo, cabe «iluminar» os católicos «com a doutrina da Igreja acerca das grandes questões da sociedade».

«Como sempre, talvez mais do que nunca, a intervenção doutrinal é um elemento importante no processo dinâmico e transformador que deve animar sempre um corpo vivo, como o é uma sociedade organizada», disse o Patriar-ca de Lisboa, acrescentando que «o quadro democrático, em que o sentir colectivo decide do quadro institucional e inspira as leis, parece-nos indiscutível».


Há modelos de sociedade contra a Igreja


Falando perante os bispos católicos de Portugal, D. José da Cruz Policarpo defendeu que, «para que não se caia na rotina de mecanismos democráticos formais, é preciso enriquecer o nosso conviver com a educação, alargar o acesso à cultura, aprofundar o discernimento lúcido dos problemas e das situações, criar consensos para aquelas que não podem esperar ou ficar sujeitas à dialéctica da luta política».

Rejeitando que a Igreja seja de esquerda ou de direita, podendo «os cristãos, individualmente, sê-lo», o Patriarca de Lisboa sublinhou, no entanto, que «tanto à esquerda, como à direita, há modelos de sociedade que não cabem no quadro da doutrina social da Igreja».

Abordando os 30 anos do “25 de Abril” – em 1974 a Conferência Episcopal estava reunida em Fátima no dia da Revolução –, D. José Policarpo referiu-se à questão da «revolução» ou «evolução», que tem originado alguma polémica entre o Governo e a oposição.

Sobre as análises que têm sido feitas à intervenção da Igreja Católica portuguesa no “25 de Abril”, o prelado disse que se situam «num leque muito aberto, que vai daqueles que a acusam de se ter aliado à direita e ter sido uma das forças que contrariou Abril, até aos que gostariam, no momento presente da nossa vida nacional, de a ver mais interventiva».

Na sua intervenção, D. José Policarpo sublinhou ainda o tempo pascal, para evocar a Sexta-feira Santa e a Via-Sacra, pela qual, disse, «passaram os horrores das diversas guerras que dilaceram, neste momento, a família humana e entre as quais temos dificuldade em identificar alguma que seja justa».

«Ali ecoaram os gritos de tantas vítimas inocentes, o pânico de populações assustadas com o fenómeno irracional do terrorismo», disse, também, D. José Policarpo, para quem «o mundo tem o direito de esperar da Igreja, na sua palavra e no seu testemunho, que ela seja agora, neste momento concreto, “casa da comunhão”, foco de esperança e de serenidade, determinação em lutar pelo homem e pela vida, pela sua dignidade e pelo seu direito à felicidade».

[2004-04-20 - 09:59] [Redacção/Lusa]