Relance 97
Missão na Guine
A Alexandra Chumbo tem 23 anos e conhecia quando em 2002 fui num grupo de jovens Cristãos ao Encontro Mundial de Jovens com o Papa em Toronto no Canada.
Recentemente formada em psicologia clinica , esta actualmente a estagiar na Associação de Apoio a Vida em Lisboa.
Sempre dinâmica e uma Católica praticante deixa aqui um pouco do seu testemunho com uma experiência missionaria que teve na Guiné .
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A minha experiência na Guiné...
Não sei bem como começar... na verdade, acho que por mais palavras que escreva, não me será possivel explicar a experiência missionária na Guiné. No entanto, a pedido do meu querido amigo Claudio Anaia, farei os possiveis por relatar o mais fielmente possivel e em poucas palavras, como vivi este Agosto de 2002.
Acabadinha de chegar de Toronto, recordando as palavras em português do Santo Padre ("as jornadas não acabam aqui"), havia que dar continuidade "à minha jornada", e partir para a Guiné. Partir para um pais que já não me era totalmente estranho, mas que é muito diferente de tudo a que estou habituada. Mesmo por ser tão diferente, e por me ser tão "difícil" viver sem certas comodidades, aceitei o "convite" que Jesus me fez nestas férias... Parti, porque Jesus me chamou, parti porque queria dar-me aos outros, queria descentrar-me de mim, da minha "vidinha" e dar-me gratuitamente a um povo que desconhecia.
Poderia ter feito alguma coisa em Portugal, mas o desejo de deixar tudo, ainda que apenas por alguns dias, fez-me sentir que para mim, seria uma doação muito maior, mais dolorosa, partir para áfrica... Não fui fazer nada de extraordinário... Aliás, ao recordar cada dia acho sempre que fui a mais beneficiada com esta "estadia". Estar num pais sem luz, sem água canalizada, sem chuveiro, sem conforto, a dormir no chão uns dias, faz-nos pensar muito na vida que levamos, nos problemas dos quais nos queixamos e que ali... são pormenores... Aprende-se a não ligar tanto aos pormenores, a dar graças constantes por tudo o que temos. A louvar Jesus por todos os recursos básicos, que ali se tornam luxos. A vida em comunidade que partilhávamos, ajudou-me a entender que a caridade está presente em pequenos gestos discretos que temos e não dizemos.
O nosso dia-a-dia na Guiné era preenchido pelo calor, calor "climático" mas sobretudo calor humano, de todo um povo que se esforça por esconder a tristeza e conformação sentida, e oferecer um sorriso. Rodeados de cânticos e danças, a alegria que é caracteristica dos povos africanos mesclava-se com um misto de tristeza. É mesmo isso, recordo um olhar profundo, um olhar triste, de quem "sobrevive" como pode.
Muitas vezes sentia-me a viver um filme... sentia que tinha regressado à pré-história e que aqueles contextos já não existiam. Andar duas horas de jipe, no meio do nada, numa pseudo-estrada cheia de buracos e encontrar uma tabanca ( pequena aldeia onde se vive em comunidade), foi das coisas que mais me impressionou. As tabancas, constituidas por 4 ou 5 "palhotas" onde vivem centenas de pessoas fazem parte de um cenário que já só pensei ser possivel no imaginário humano. Mas não... é verdade, existem! Existem e funcionam, com mais ou menos dificuldades, com altas taxas de mortalidade infantil, com muita fome e miséria.
O balanço, claro está é muito positivo. A ida à Guiné foi muito boa. Foi muito pedagógica para todos nós que fomos, que aprendemos, que vivemos esta experiência. Resta-me agradecer a todos os que cá ficaram. A toda uma diocese que mostrou a sua generosidade, a sua oração, a todos vós que fizeram com que esta missão fosse possível. Peço-vos que rezem pela Guiné, que rezem pelas missões, que rezem a continuidade deste projecto para que muitos mais jovens façam esta experiência bonita de doação aos outros ainda que apenas por alguns dias...
Alexandra Chumbo